41. O que Odeio Nela
“Ettore Bianchi”
A Milão que nos recebe parece exatamente a mesma que deixamos. Cinza. Movimentada. Como se nada tivesse acontecido na Suíça.
Exatamente como deve ser.
— Não vamos para a empresa? — Liz pergunta, reconhecendo o caminho de casa.
— Eu vou. Você pode tirar o resto do dia para descansar.
Ela vira o rosto rapidamente, me encarando como se eu tivesse acabado de dizer algum absurdo.
— Descansar? — repete, como se a palavra não fizesse sentido. — Não acha que vai parecer estranho sua esposa ficar em casa enquanto você trabalha?
— Acho que seria mais estranho irmos juntos e notarem sua cara de quem comeu algo e quer vomitar — rebato, recebendo um revirar de olhos como resposta. — Crise no casamento com menos de um mês é a última coisa que quero transmitir agora.
— Como queira, caro tutor — ela conclui, desviando o olhar para a janela.
Minha mandíbula trava no mesmo instante. “Caro tutor”. Dito com a ironia que só ela consegue destilar em duas palavras.
Como se fizess