Esperança

A oportunidade surgiu em um final de semana. Núbia tinha preparado um almoço em família e todos estavam presentes. O clima era de festa, mas Cristina, como sempre, manteve-se discreta. Conversava aqui e ali, sempre controlando o que mostrava de si.

Mais tarde, enquanto todos estavam rindo na sala, ela se afastou para varanda. Precisava de um pouco de silêncio. Sentou-se, olhando para o horizonte, pensando em como sua vida estava estável, mas solitária.

Foi então que Alessandro se aproximou. Ele havia notado a ausência dela e, com a naturalidade de quem não precisa forçar nada, perguntou:

— Fugindo da bagunça?

Cristina sorriu de leve, sem olhar para ele.

— Só… respirando um pouco. Às vezes preciso de silêncio.

Ele se sentou ao lado, mantendo uma distância respeitosa.

— Entendo. No quartel, o silêncio é um luxo raro. Quando consigo, aproveito cada segundo.

Ela riu baixinho, surpresa com a leveza dele.

— Nunca imaginei ouvir isso de um comandante.

— Pois é — respondeu ele, olhando para o céu. — As pessoas acham que só vivemos de disciplina e dureza. Mas, no fundo, todos precisamos de paz.

Cristina ficou em silêncio por alguns instantes. Aquelas palavras mexeram com ela mais do que gostaria de admitir. Quando percebeu, estava contando sobre um projeto difícil que estava desenvolvendo, sobre as noites em claro que passava tentando encontrar soluções.

Alessandro ouviu cada palavra com atenção genuína. Não interrompia, não mudava de assunto, apenas escutava. No final, disse:

— Você fala dos seus projetos como se fossem parte de você. É admirável… Mas também vejo que você carrega algo pesado.

Cristina congelou. Ninguém nunca havia percebido tão rápido. Ela desviou o olhar, tentando disfarçar.

— Não sei do que você está falando.

Ele sorriu de forma tranquila, sem pressioná-la.

— Tudo bem. Só quero que saiba de uma coisa: às vezes, até os muros mais altos precisam de uma porta. Não para deixar qualquer um entrar, mas para permitir que quem merece, possa.

Essas palavras ficaram ecoando na mente dela muito depois de a conversa terminar. Pela primeira vez em anos, Cristina sentiu o coração acelerar não por medo, mas por uma sensação nova — esperança.

Os anos passaram, mas o peso daquela noite nunca saiu dos ombros de Cristina. Ela aprendeu a esconder bem a dor — ninguém desconfiava do que tinha acontecido. Para todos, era apenas a jovem brilhante, focada, dedicada, sempre com uma postura impecável. Mas, por trás da firmeza no olhar, havia uma mulher que nunca mais conseguiu se entregar de verdade.

No trabalho, esse bloqueio se transformou em combustível. Cristina mergulhava em cada projeto como se fosse um pedaço dela mesma. Enquanto muitos viam apenas plantas baixas, cálculos e estruturas, ela via uma forma de expor sentimentos que nunca ousava falar. Criava casas acolhedoras, ambientes que transmitiam segurança e conforto — tudo aquilo que ela mesma não conseguia sentir.

Com os clientes, era profissional, educada e encantadora. Mas sempre mantinha uma distância invisível, como se houvesse uma linha que ninguém podia cruzar. Alguns chegavam a se interessar por ela, mas Cristina se esquivava, cortava pela raiz qualquer possibilidade de algo mais íntimo. Não era frieza, mas autoproteção.

Com os amigos, era companheira e presente, mas sempre evitava conversas sobre relacionamentos ou sentimentos. Preferia ouvir do que falar, e quando perguntavam sobre sua vida amorosa, desviava com um sorriso ensaiado.

Com Núbia, sua irmã, a relação era de amor profundo. Cristina fazia de tudo para apoiá-la, vibrava com cada conquista, e se sentia responsável por ser um exemplo de força. Mas, mesmo com a irmã, nunca teve coragem de revelar aquele segredo. Guardava para si, acreditando que, ao esconder, também poderia proteger Núbia da dor.

No fundo, Cristina acreditava que o amor não era para ela. Via casais felizes, mas não se permitia sonhar com aquilo. O coração estava protegido por muralhas altas demais, erguidas com cimento de dor e tijolos de desconfiança.

Ainda assim, às vezes, em raros momentos de silêncio, Cristina se pegava pensando:

— Será que um dia alguém vai conseguir atravessar essas muralhas?

E essa dúvida a acompanhava como uma sombra, ao mesmo tempo que a fortalecia e a aprisionava.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App