O vento soprou forte naquela manhã, como se até ele soubesse o que o coração de Selena tentava esconder.
A carta ainda estava no chão, aberta, exposta como uma ferida. Selena continuava ajoelhada na terra, os olhos secos, mas o peito em ruínas.
Ela não chorava mais.
As lágrimas haviam sido engolidas por uma dor mais funda: a que não escapa pelos olhos, mas que permanece silenciosa, corroendo por dentro.
Levantou-se com dificuldade. Os dedos apertavam o colar de meia-lua contra o peito, como se ele fosse a única coisa ainda real. Cada passo de volta à aldeia parecia mais pesado que o anterior, como se o chão exigisse dela a força que já não tinha.
Caminhou entre as cabanas em silêncio. O vilarejo acordava devagar. O cheiro de lenha queimando se misturava ao de pão fresco e ervas. Vozes distantes se espalhavam entre risos e conversas, mas ela se sentia desconectada. Deslocada. Como se sua alma ainda estivesse caída lá fora, junto à carta.
Mayra foi a primeira a vê-la se aproximar.
— Sel