Ecos na mansão

O portão de ferro forjado se abriu lentamente, emitindo um rangido agudo que se perdeu na imensidão do jardim coberto pela névoa. Eithan caminhou sem pressa pela alameda de pedras, enquanto os galhos retorcidos das árvores pareciam observá-lo em silêncio. A mansão surgia à sua frente como uma entidade viva — imponente, fria, de janelas altas e opacas.

A porta principal foi aberta por Anastácia, sempre discreta, que o conduziu até o hall principal sem sequer fitá-lo nos olhos. O aroma discreto de jasmim pairava no ar, misturando-se ao perfume adocicado da madeira envelhecida.

Catarine aguardava no centro da escadaria, vestida de preto, como sempre, o tecido escorrendo como sombras ao redor de sua silhueta.

— Eithan… — saudou, com um sorriso contido. — Que bom que pôde vir.

Ele inclinou levemente a cabeça, os olhos percorrendo os detalhes do ambiente: tapeçarias antigas, um lustre de cristal opaco, e o reflexo tênue da luz natural que mal conseguia atravessar as cortinas pesadas.

— Obrigado pelo convite — respondeu ele, mantendo o tom profissional, embora não conseguisse ignorar a estranha sensação de que aquela casa escondia mais do que os olhos podiam perceber.

Catarine o conduziu até a sala de estar, onde uma lareira mantinha o ambiente aquecido, contrastando com o frio cortante do lado de fora. Sobre a mesa de centro, repousava uma bandeja com chá e pequenos biscoitos amanteigados, cuidadosamente dispostos.

— Achei que seria… mais confortável conversarmos aqui, longe do ambiente rígido da empresa — disse ela, servindo o chá com gestos graciosos, embora os olhos demonstrassem certa tensão.

Eithan sorriu discretamente, aceitando a xícara.

— Fico lisonjeado. Não esperava um convite tão pessoal.

Catarine se sentou à frente dele, cruzando as pernas com elegância.

— Nem sempre sigo o esperado.

Ele registrou mentalmente aquela frase.

Enquanto falavam, no andar superior, Holly tossia baixinho, deitado em sua cama, sob o olhar atento de Anastácia. A babá passava um pano úmido sobre sua testa, tentando conter a febre que teimava em não ceder.

— Fique em silêncio, meu amor… — sussurrou Anastácia, ouvindo ao longe as vozes abafadas no térreo.

De volta à sala, Eithan prosseguia com a entrevista, anotando respostas, mas também observando: os olhos de Catarine, sempre alertas; as mãos que, por vezes, crispavam-se sobre o tecido do vestido; e o breve desvio de olhar que ela dava, como se, por um segundo, sua mente estivesse em outro lugar.

— A senhora vive aqui sozinha? — perguntou casualmente, enquanto anotava.

Catarine sorriu, como quem domina o jogo.

— Sim. A solidão… é um luxo que nem todos compreendem.

Eithan assentiu, embora a resposta não lhe parecesse completamente sincera. Havia algo naquela casa, naquele silêncio...

Um estalo no piso superior chamou sua atenção, mas Catarine, com naturalidade calculada, serviu-lhe mais chá, desviando completamente o foco.

— Diga-me, Eithan… — começou ela, inclinando-se levemente para frente —... o que realmente procura com essa entrevista?

Ele sustentou o olhar, controlando a respiração.

— Apenas a verdade sobre quem é Catarine.

Ela sorriu, fria e impenetrável.

— Então está perdendo seu tempo. A verdade, Eithan… não mora aqui.

Lá em cima, Holly tossiu novamente, mas o som foi abafado pelo estalo da lenha queimando na lareira.

O celular de Catarine vibrou discretamente sobre a mesa. Ela lançou um olhar rápido para a tela — uma mensagem de Anastácia: “A febre subiu”.

Por um breve instante, seu semblante vacilou, mas logo recuperou a frieza habitual.

— Precisa atender? — indagou Eithan, notando a vibração.

— Não. Nada que não possa esperar.

Eithan percebeu o controle milimétrico daquela mulher. Cada palavra, cada gesto, parecia coreografado para ocultar algo muito maior. Mas o quê?

Enquanto a tarde avançava, a entrevista se prolongou, misturando perguntas sobre moda, negócios e filosofia de vida. Catarine respondia com elegância e um distanciamento quase glacial.

— A sua marca… sempre tão sóbria, tão envolta em tons escuros… — comentou ele. — É um reflexo da sua visão estética… ou da sua visão de mundo?

Catarine soltou um leve riso, o primeiro daquela tarde.

— Talvez ambas, Eithan. A beleza está na sombra, não na luz.

Do lado de fora, a neblina adensava-se, envolvendo a mansão como um véu espesso.

Ao fim da entrevista, Eithan levantou-se, agradecendo:

— Foi um prazer, senhora Catarine.

— O prazer foi meu… Eithan — respondeu ela, segurando sua mão por um segundo a mais do que o necessário.

Ele caminhou até a porta, sentindo o peso invisível daquela casa e daquela mulher. Antes de atravessar o portão, olhou uma última vez para as janelas altas e escuras.

Lá de cima, atrás das cortinas, Anastácia observava, com Holly no colo, febril e sonolento.

— Está tudo bem… — sussurrou a babá, acariciando-lhe os cabelos.

E, lá embaixo, Catarine permanecia imóvel no centro do hall, como uma estátua viva, envolta pela penumbra, com o coração acelerado… e o segredo mais precioso intacto.

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