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Capítulo 4 - Dante Vasconcellos

Nada me preparou para o que eu poderia sentir quando reencontrasse Isabella Mendes. Talvez porque eu nunca considerei reencontrá-la. Mas aqui estamos.

Os olhos dela ainda têm o mesmo brilho feroz de que eu me lembrava, os cílios longos lhe conferindo um aspecto delicado e feminino, contrastando com o misto de choque e algo mais, algo muito parecido com ódio.

Bella se desvencilha do meu toque e finalmente presto atenção no que ela veste. Um uniforme preto com uma bandeja a tiracolo, os dedos segurando o metal com força.

— Bella? — O nome escapa da minha boca outra vez sem meu controle.

Ela pisca, os lábios se apertam em uma linha fina, claramente irritada por me ver.

— Senhor Vasconcellos — ela diz. Consegue mascarar bem o ranço que o nome deixa em sua boca com um tom profissional e impessoal, como se eu fosse apenas mais um convidado e não seu ex-namorado.

— Se-senhor Vasconcellos? É sério isso? Senhor é meu avô, Bella, pelo amor de Deus.

Ela endireita os ombros, se recompondo.

— Estou trabalhando e você está no meu caminho, o banheiro fica para o outro lado.

Levo um segundo para processar sua frieza. Subitamente ciente demais de que a Bella que conheci um dia era atrevida, sim, cheia de vida, sorria com superioridade e amava ser o centro das atenções, mas também era quente, carinhosa e gentil.

— Não te vejo há anos, será que a gente pode conversar?

Algo no meu tom de voz parece desarmar Bella, porque ela respira fundo e cede por uma fração de segundos.

— Sinto muito, eu preciso trabalhar, Dante.

Ela tenta passar por mim, mas me movo rápido e bloqueio sua saída com o corpo, fazendo com que ela quase esbarre no meu peito outra vez.

— Não precisa ser hoje, pode ser outro dia, eu só… eu queria…

Um encerramento? Uma chance? No que estou pensando? Nada faz sentido.

O silêncio entre nós se estende por alguns segundos, me enchendo de esperanças. Talvez ela se sinta tão descompensada quanto eu, o coração martelando no peito, o ar faltando nos pulmões.

Uma mulher se aproxima e sua voz não é nenhum pouco controlada.

— Sinceramente, querida, esse vinho está morno. E ácido. Uma taça nova, por favor, e dessa vez certifique-se de que está decente.

Ela estica a taça cheia para Bella com mais brutalidade do que precisava e acaba derrubando todo o líquido em seu uniforme.

Antes que Bella consiga reagir, a senhora solta a taça que se espatifa no chão, chamando a atenção de todo mundo.

— Mas que desastrada — a mulher completa com desprezo.

— Desculpe, senhora — Bella responde antes de se abaixar para recolher os cacos.

— Mas a culpa não foi sua — me intrometo. — A senhora poderia ter sido mais delicada.

Abaixo, querendo ajudar, mas ela empurra minha mão e me lança um olhar magoado.

— Dante, não! — Bella diz entre dentes. — Você precisa sair daqui, me deixa em paz.

Entrego a ela o lenço do meu paletó e ela o j**a de volta para mim.

— Não preciso da sua ajuda — vocifera.

Então dispara para fora do salão.

Já deixei ela partir no passado e agora estou deixando isso acontecer de novo.

Num surto de adrenalina, corro atrás dela, tentando alcançá-la antes que atravesse uma porta restrita apenas para funcionários.

Ela se vira, me direcionando um olhar furioso. Outros garçons param o que estão fazendo para me avaliar, mas logo o supervisor chama a atenção de todos de volta ao trabalho.

— Você não deveria estar aqui — o homem diz já segurando meu ombro e me conduzindo porta afora.

— Eu sei, eu só preciso…

— Porque não volta para o salão, logo alguém vai servi-lo, senhor. Tem algum pedido especial? Um whisky duplo talvez? Ótimo, agora pode ir.

Ao invés de voltar para o salão, decido ir para casa.

O silêncio do apartamento de cobertura é opressor. Quando jogo as chaves sobre o aparador ao lado da porta e afrouxo a gravata, sinto a pressão da noite pesar sobre mim.

Não sei dizer o que me incomodou mais: o encontro inesperado com Bella, ou o jeito que ela me olhou. Como se eu fosse a personificação de tudo o que havia dado errado em sua vida.

Pego um copo e me sirvo com uísque, não que eu já não tenha tomado o suficiente naquele coquetel, até porque foi preciso para sobreviver ao resto da noite. Meu olhar vasculhava cada canto do salão, como se um ímã me obrigasse a ficar acompanhando os passos de Bella, mesmo sabendo que ela não arriscaria chegar perto de mim de novo.

E não chegou mesmo. Me evitou com maestria. E isso doeu.

Houve um tempo em que o magnetismo era mútuo, em que, independente de quantas pessoas ou quanto espaço nos separava, nós sempre encontrávamos o caminho e terminávamos um nos braços do outro.

Como tudo isso se perdeu assim? Tão rápido?

Lembro de quando meu avô disse para eu não me preocupar, porque a família Mendes ficaria bem.

Bella não parecia nada bem. Continuava linda, é verdade, mas também parecia que a vida lhe sugou boa parte da mulher incrível que ela costumava ser. Estava assustadoramente magra, com olheiras profundas, ainda que a maquiagem disfarçasse bem.

Dou um longo gole no uísque e pego o celular. Digito seu nome no mecanismo de busca e aperto enter.

Os primeiros resultados são fotos antigas de eventos de gala, a Bella que conheci. Sorrindo ao lado dos pais, vestindo vestidos impecáveis, os cabelos sempre soltos, cachos largos emoldurando o rosto e caindo sobre os ombros. A expressão sempre carregada da confiança de quem sabe seu lugar.

Sempre sonhou alto, grande, era ousada, ambiciosa. Bella sempre pertenceu a esse mundo. Até não pertencer mais.

Conforme rolo a página, a história muda.

A fusão entre a Mendes Tech e a Vasconcellos Corp começa a protagonizar a história de Bella. Algo chama minha atenção, uma palavra que parece mal encaixada.

"Após a fusão, Jorge Mendes deixou a companhia. Rumores indicam que sua participação na empresa foi reduzida a zero. Desde então, a família Mendes desapareceu dos círculos de elite."

Ele deixou a companhia. Não foi removido, como Bella acusa. Isso explica algumas coisas, acho.

Continuo buscando por resposta na tela do celular, os artigos posteriores são escassos, eles perderam relevância. Não há fotos recentes, nenhuma menção em colunas sociais ou entrevistas. Eles simplesmente desapareceram da mídia.

A ponto de ninguém realmente se importar que agora ela carrega bandejas em um evento para o qual, anos atrás, teria sido convidada.

Desabo no sofá, tentando relaxar. Mas aquele lugar também desperta memórias.

Bella sentada sobre mim, me abraçando com braços e pernas, minhas mãos subindo por suas coxas, quadril, cintura, seios… o vestido arremessado para qualquer lugar onde não fosse mais uma barreira para o meu toque, para minha boca.

Lembro de como ela sempre sorria quando eu me enfiava nela, e do carinho delicado em meu rosto mesmo em meio ao prazer febril. Encaro o celular com um frio no estômago. Digito o meu nome junto ao dela e encaro as fotos de um passado que parece mais como uma vida inteira.

A mídia nos adorava. As notícias nunca foram maldosas, éramos o casal queridinho da elite.

Isso me desperta para o contraste de quem eu era e quem eu sou. De repente, entendo por que a mídia ficou tão obcecada com minha vida sexual.

— Puta que pariu. É isso! — salto no sofá, largado o copo na mesa de centro e imediatamente tirando um print da tela e deslizando pelos aplicativos e contatos até encontrar a conversa com Enzo.

É perfeito. Vai soar autêntico.

Acabei de encontrar minha noiva por contrato.

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