Saio do estacionamento do hospital me perguntando quando vai ser a próxima vez que vamos voltar aqui? Espero que somente quando Bella entrar em trabalho de parto.
Não faz nem dez dias desde o acidente, mas parece que se passaram anos. Foi uma rotina cansativa e angustiante. Como se não bastasse todo o susto com a saúde de Bella e do bebê, ainda tive que lidar com todas as outras mudanças em minha vida.
Mudei minha visão de mundo, minhas prioridades e minha história. Tive que dar depoimentos, estar em reuniões com uma sala cheia de advogados, policiais, outros empresários…
Mas agora Bella recebeu alta e eu só quero levar minha mulher para nossa casa e cuidar bem dela. E por cuidar bem dela, digo que conversei com um médico obste
Dante deita ao meu lado, beijando os hematomas no meu corpo gentil e lentamente. Sei que eu deveria estar respeitando o repouso, mas é difícil quando me sinto tão bem, tão viva.Algumas partes do meu corpo ainda doem, é verdade. Meu braço segue quebrado, mas quando Dante me toca, a dor desaparece. Só o que sinto é um fogo descontrolado que parece se alastrar pelas minhas veias.— Tente se mexer o mínimo possível — ele diz com a voz grave enquanto tira a camisa. Senti falta disso, dessa vista, desse homem. Solto um suspiro alto e ele balança a cabeça, divertido. — Como o bebê não sofreu nenhum trauma direto, tem algumas coisinhas que a gente ainda pode fazer, você só não pode fazer muito esforço.
— Me perdoa, me perdoa, desculpa — me apresso, deixando um rastro de beijos por seus hematomas. — Eu tava com tanta saudade de você e sua buceta tá com um gosto diferente, tão bom.— Tá tudo bem — ela diz passando a mão por minha barba, secando um pouco o rastro de saliva e gozo. — Não foi você, eu só não consegui não me contorcer tanto.— Por minha causa — me martirizo.— Você ainda tá duro — ela muda de assunto.— Nem pensar, você não vai…— Não vou — me interrompe com a voz determinada. — Mas adoraria ver você se masturbando pra
Dou uma última olhada no quarto sem conseguir conter as lágrimas. Será que toda vez que olhar para ele vou pensar nisso? Em como passamos o dia hoje? Amontoados, esbarrando uns nos outros, nos sujando de tinta e ajudando a parafusar móveis?Espero que sim. Foi especial e faz eu me sentir nas nuvens.O berço ficou pronto primeiro, meu pai se gabou de sua agilidade, mas foi Daniela que brilhou, definindo para onde iam os restantes dos móveis. Todos acharam estranho que eu não tivesse escolhido um arquiteto para assumir todo o trabalho, mas no fim amaram a possibilidade de fazer parte desse momento. Enzo e Maicon já tinham vindo outras vezes para ajudar Dante a pintar as paredes. Tarefa da qual fui afastada por conta do cheiro.Mesmo assim, eles voltaram hoje, com
Trinta e nove semanas e quatro dias.O tempo passou, como sempre passa. Mas pela primeira vez não me arrastou consigo. Seguimos juntos, fluindo, entendendo como cada coisa tem a hora e o lugar para acontecer.Esse bebê ainda nem nasceu e já me ensinou tudo o que eu precisava aprender sobre paciência. Com certeza, é só o começo da jornada, mas já é cheia de leveza e propósito.A nova empresa de Dante também levou tempo, não tanto quanto era de se esperar, afinal o dinheiro cria atalhos, mas está finalmente de pé e hoje celebramos isso.Um brunch elegante e discreto, mas tão importante quanto tantos outros que comparecemos em outros tempos. Mesas de vidro sob um pergolado
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err
Odeio pensar que talvez Enzo esteja certo: estou ficando velho. Minhas ressacas estão se tornando cada vez mais insuportáveis.Aperto os olhos puxando as memórias da noite passada, mas tudo se embaralha. O despertador toca, mas o que me desperta é a mão quente e macia no meu peito.Espio para confirmar que trouxe duas mulheres para casa, e elas sorriem entre si, depois para mim, rastejando pela cama, cada uma cobrindo uma lateral do meu corpo. Tento alcançar o celular para desativar o toque irritante do alarme. Só quando meu dedo tateia a tela onde deveria estar o botão é que percebo que, na verdade, estou recebendo uma chamada.Alberto Vasconcellos só me liga para duas coisas: desejar parabéns e arrancar meu couro. Digamos que hoje não é meu aniversário…Dispenso as meninas, contornando a situação para não ter que citar o nome de nenhuma das duas, já que não lembro quais são. Bebo um litro inteiro de água e lavo o rosto na água fria da pia do banheiro.Abro as redes sociais e mergulh
Entro no apartamento sem me dar o trabalho de acender as luzes. A luz da TV na pequena sala de estar ilumina o rosto pálido e ossudo de meu pai. Seu olhar está fixo na tela, mas não de um jeito concentrado, só de um jeito… vazio.— Oi, pai. — Tento forçar uma simpatia na voz, uma falsa felicidade por estar de volta nesse muquifo apertado e mofado.Como se fosse uma recompensa chegar em casa e encontrar meu pai, que nem levantou do sofá o dia inteiro, porque é como se já fossem uma coisa só, fundidas num ranço de depressão e descaso.Sinto a culpa me consumir quando penso nisso e me repreendo mentalmente.— Você comeu alguma coisa? — pergunto, tirando os sapatos perto da porta e largando as sacolas do mercado em cima do pequeno balcão da cozinha.Nada.Solto um suspiro cansado, aprendi a me acostumar com seu silêncio. Quase não me lembro mais do homem forte que ele costumava ser, um líder nato. O que me sobrou foi um homem pálido, apático, uma versão desgastada do homem que eu admirava
— Como requisito indispensável à manutenção da condição de herdeiro legítimo blablablá o beneficiário deverá contrair matrimônio com e manter o vínculo conjugal pelo período mínimo de doze meses a contar da data da celebração da união civil.— Eu sei, eu já li — murmurei, afundando no sofá de couro.— Não terminei — meu melhor amigo, Enzo, ralha. — Durante a vigência do matrimônio, o beneficiário deverá preservar a integridade e a reputação pública do nome Vasconcellos, abstendo-se de condutas que possam comprometer a imagem da família ou da empresa, direta ou indiretamente.— Traduzindo: um marido não vai pra balada, não traí, não bebe, não trepa…— Trepa com a esposa pelo menos.— Que esposa? Você acha mesmo que eu vou conseguir seguir qualquer coisa que esteja aí? — Minha voz sai mais aguda do que eu gostaria.Passei o dia inteiro pensando nisso. Ou mais especificamente, pensando em como me livrar disso.— Seria mesmo tão ruim eu recusar? Eu ainda teria as coisas que estão no meu n