Assisti pacientemente, e angustiada, a pasta do “Conselho administrativo” ser acessada como se o computador tivesse vida própria. Vi documentos financeiros, mapas de fusão, processos em andamentos, e-mails trocados com advogados, termos comprometedores e palavras chaves suspeitas como: neutralizar oposição, obstrução de fiscalização ou estratégia de aquisição silenciosa, seja lá o que isso signifique.
Tento filmar o que posso com meu celular, mas não há sinal nenhum aqui para que eu envie as provas para Maicon e Enzo, ou pelo menos suba os arquivos na nuvem.
Meu sinal com certeza foi bloqueado manualmente, quanto mais tempo passo nessa sala, mais percebo que é a gaiola da armadilha perfeita. Não há nenhuma rota de fuga, a varanda, a
Cada passo pesa. Por cada porta que passo, a desconfiança cresce mais. O caminho está muito vazio e não imagino Isabella indo tão longe.— Onde você está me levando? — pergunto.— Sua esposa passou dizendo que não estava se sentindo bem e precisava sentar um pouco. Bebeu demais — ele olha por cima do ombro com um sorriso convencido. — Ofereci de chamar ajuda, mas ela garantiu que você iria atrás dela a qualquer momento.—Sempre cuido do que é meu — murmuro, tentando disfarçar o gosto da bile subindo pela garganta. Bella nem bebeu hoje, estou sendo emboscado.—Não se preocupe, vai levar menos de cinco minutos.
Quando chegamos no pátio a ambulância já está saindo. Maicon me segura pelo braço de novo, como se estivesse prevendo que eu pretendia correr atrás dela.Enzo surge ao nosso lado, com a respiração ofegante e o rosto vermelho. Ele se coloca na minha frente, primeiro para me bloquear. Então abre os braços para me receber e eu desabo.— Ela vai ficar bem. Por favor, irmão, não vai fazer nada estúpido agora, hein?— E ficar aqui de braços cruzados? — me afasto, irado.— Dante, ouve a gente — Maicon começa, olhando ao redor e baixando o tom de voz. — A gente tem tudo pra fazer ele cair. Quando Bella… o celular dela… a gente
Entrar no hospital me causa vertigem. O cheiro estéril de álcool e os passos apressados ecoando pelos corredores me passam uma sensação claustrofóbica, mesmo que o espaço seja amplo.Tirei boa parte do terno de três peças ainda no carro, a gravata estava me sufocando e o colete parecia comprimir minhas costelas. Agora a camisa está com dois botões abertos e as mangas arregaçadas até os cotovelos.Estou grudando de suor e minhas mãos parecem tremer mais agora do que antes, talvez porque estou cada vez mais perto de vê-la e não tenho certeza ainda do que vou encontrar.Enzo me recepciona com um copo de café. Olho ao redor e meu amigo lê minha mente quando responde: Tudo começa com o som. Um apito constante e ritmado. Depois vem o cheiro. Um misto de antisséptico, lençóis limpos de algodão e algo almiscarado e sal. Perfume e suor. Então sinto a garganta seca, como se tivesse bebido areia ao invés de água. E por último vem a dor, tomando meu corpo como uma onda sutil, costelas, ombro, cabeça…Tento abrir os olhos, mas as pálpebras pesam, feitas de chumbo, é preciso esforço e a luz branca no teto me atinge, deixando tudo turvo. Piscar dói. Pensar dói. Respirar… cada inspiração parece que vai me rasgar.Não consigo lembrar onde estou, mas sei que não estou sozinha. Sinto os dois braços imobilizados, mas só um deles está quente, preso por algo firme.Capítulo 111 - Isabela Mendes Vasconcellos
O som do monitor é constante. Bella passou por mais uma bateria de exames e os médicos estão muito confiantes de que não há nenhuma sequela ou consequência para sua queda.Não saio do seu lado e nem largo sua mão por nada. Estou onde quero estar e onde devo ficar.Alguém bate na porta.— Com licença — ouço a voz e sinto os dedos de Bella se apertarem ainda mais entre os meus.Viro para ver a mulher alta, elegante e um pouco mais envelhecida do que eu me lembrava, mas com o mesmo ar de superioridade disfarçada. As mãos cheias de anéis apertam uma bolsa caríssima contra o corpo. Os olhos varrem o quarto com uma mistura de análise e desprezo.
Já estou cansada desse hospital, mas pelo menos agora me deixam sair do quarto, desde que seja numa cadeira de rodas, com Dante me empurrando para lá e para cá.De qualquer forma, ainda estou deitada em uma maca de hospital. Outra maca. Outra sala. Mas um motivo novo e empolgante.— Está pronta? — o médico pergunta enquanto aplica um gel aquecido na minha barriga.Assinto, mas não consigo dizer nada. Dante está em pé ao meu lado, uma das mãos entrelaçada na minha, como tem sido nos últimos dias. A outra está espalmada no peito, talvez segurando o próprio coração no lugar.Ainda não há nada para ver, mas seus olhos estão fixos no monito
Saio do estacionamento do hospital me perguntando quando vai ser a próxima vez que vamos voltar aqui? Espero que somente quando Bella entrar em trabalho de parto.Não faz nem dez dias desde o acidente, mas parece que se passaram anos. Foi uma rotina cansativa e angustiante. Como se não bastasse todo o susto com a saúde de Bella e do bebê, ainda tive que lidar com todas as outras mudanças em minha vida.Mudei minha visão de mundo, minhas prioridades e minha história. Tive que dar depoimentos, estar em reuniões com uma sala cheia de advogados, policiais, outros empresários…Mas agora Bella recebeu alta e eu só quero levar minha mulher para nossa casa e cuidar bem dela. E por cuidar bem dela, digo que conversei com um médico obste
Dante deita ao meu lado, beijando os hematomas no meu corpo gentil e lentamente. Sei que eu deveria estar respeitando o repouso, mas é difícil quando me sinto tão bem, tão viva.Algumas partes do meu corpo ainda doem, é verdade. Meu braço segue quebrado, mas quando Dante me toca, a dor desaparece. Só o que sinto é um fogo descontrolado que parece se alastrar pelas minhas veias.— Tente se mexer o mínimo possível — ele diz com a voz grave enquanto tira a camisa. Senti falta disso, dessa vista, desse homem. Solto um suspiro alto e ele balança a cabeça, divertido. — Como o bebê não sofreu nenhum trauma direto, tem algumas coisinhas que a gente ainda pode fazer, você só não pode fazer muito esforço.