O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas brancas, tingindo o quarto com tons dourados e pálidos. Ainda assim, o calor de Phoenix em pleno outubro era sufocante, ondas secas que grudavam na pele antes mesmo do meio-dia. Chloe se levantara cedo, como sempre, para preparar o café da manhã de três pessoas. Mas, naquele dia, o peso da rotina parecia mais leve.
Era como se todos os anos anteriores tivessem sido ensaio. Naquele dia, ela sentia que estava pronta para viver o papel principal da sua própria vida.
Chloe era apaixonada pelo seu namorado, desde que o conheceu no colegial, há cinco anos. Um ano depois, eles já estavam namorando e fazendo planos próximos. Leônidas sempre dizia que, quando Chloe completasse vinte anos, ele a pediria em casamento.
E ali estava ela, seus vinte anos haviam chegado.
Esse pensamento a fez sorrir. Ela girou os pés, deslizando pelo chão frio enquanto sorria e dançava na cozinha vazia.
— Está tão feliz hoje – Josephine entrou na cozinha, encarando-a com estranheza –, algum evento importante?
— Eu me sinto… mais madura hoje – ela disse, mas Josephine arqueou as sobrancelhas, indiferente –, por que a Megan ainda não se levantou?
— A Megan não está em casa – Chloe parou o que estava fazendo e olhou para a madrasta –, está envolvida com os preparativos do casamento.
— Ah, claro – Chloe havia até esquecido que Megan se casaria no dia seguinte.
Ninguém parecia se lembrar de que era o aniversário dela. Todos envolvidos nos seus próprios problemas. Chloe não esperava nada da madrasta, mas sua meia-irmã deveria estar presente para parabenizá-la.
A mãe de Chloe morreu há quase uma década. Dois anos depois, seu pai se casara com Josephine. Desde então, ela e Megan, sua nova meia-irmã, cresceram como amigas, confidentes e irmãs de verdade, apesar da ausência de laços de sangue.
— Por que está demorando tanto para servir o meu café? – A impaciência de Josephine estourou em seus ouvidos.
Tentando disfarçar a frustração, Chloe arrumou a mesa, serviu a madrasta e saiu da cozinha. O coração acelerou quando pegou o celular, nenhuma notificação.
Nenhuma mensagem parabenizando-a pelo seu dia. Então, o aparelho vibrou. Uma mensagem de Leônidas:
— Vamos jantar hoje à noite? Me encontre em minha casa.
Chloe sorriu. Talvez aquele fosse o momento. Talvez ele realmente fosse pedi-la em casamento.
O dia se arrastou lentamente quando a noite finalmente chegou. Chloe nunca imaginou que passaria seu aniversário tão solitária, trancada em casa e completamente sozinha, sem que ninguém sequer se lembrasse dela.
Subiu as escadas em silêncio, pegou sua bolsa e saiu de casa. Ela mal podia esperar para receber seu presente de aniversário. Vinte minutos depois, ela estava na casa dele.
Querendo surpreendê-lo, ela abriu a porta com a chave extra que ele mesmo havia dado a ela, mas seu sorriso desapareceu assim que ela entrou na casa. Não havia velas. Nem flores. Nem música.
Leônidas estava sentado no sofá e não havia nenhuma mesa posta para um suposto jantar romântico. Quando ele a viu entrar, se colocou de pé e a encarou. Sua expressão ilegível.
— Acho que devemos terminar – ele disse isso tão rápido que ela mal conseguiu respirar.
— O que você disse? – Ela piscou, sua voz saindo como um sussurro. – Isso é uma brincadeira?
Ele a olhou do outro lado da sala, exalando bruscamente. Chloe pensou que Leônidas estava dizendo aquilo apenas para assustá-la. Ninguém jogava três anos de namoro fora sem qualquer motivo.
— Eu não estou brincando – seu tom era afiado. – Eu deveria ter feito isso antes. Eu lamento, Chloe.
— Você lembra que dia é hoje? – Ela olhou em volta, sua voz subindo de tom ligeiramente. – Lembra o que disse que faria quando eu completasse vinte anos?
Leônidas não lembrava, como ninguém havia se lembrado do seu aniversário. Ele a encarou confuso e silencioso, puxando na memória as palavras dela. Ficou em silêncio por alguns segundos e, quando ela percebeu que ele não lembraria de nada, continuou.
— Eu achei que me pediria em casamento hoje – desorientada, ela continuou dizendo enquanto suas lágrimas embaçavam sua visão –, mas eu não quero que se sinta pressionado.
— Eu nunca quis pedi-la em casamento – suas palavras foram como t***s em seu rosto. – Se eu a amasse de verdade, não acha que eu me casaria com você antes?
Chloe parou de respirar. Ouvi-lo dizer essas coisas fez seu mundo desmoronar. Havia dedicado três anos da sua vida ao único homem que amou para vê-lo ir embora sem qualquer explicação.
— Ainda podemos fazer isso funcionar – ela se antecipou na esperança de reverter a situação.
— Não podemos, porque eu não quero mudar nada – ele respondeu friamente, dando um passo para longe dela. – Deixe a chave sobre a mesa quando partir.
Leônidas virou as costas e entrou no quarto, fechando a porta. Chloe ficou olhando para a cena paralisada. Abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas falhou em todas as suas tentativas. Deveria exigir uma explicação, mas depois de não conseguir mais pensar, ela se arrastou para fora, deixando as chaves sobre a mesa, suas mãos trêmulas abrindo a maçaneta antes de finalmente sair.
Nada daquilo fazia sentido, mas ela não quis encontrar razões por nenhum motivo. O ar seco de Phoenix queimava seus olhos e sua garganta, nem mesmo as lágrimas ajudavam a amenizar os efeitos. Ela andou por horas sem rumo e pensou em voltar para casa, até que seu telefone finalmente mostrou uma notificação nova. Ao olhar para a tela do celular na esperança de que fosse Leônidas, arrependido, ficou surpresa com a mensagem recebida:
— Por favor, Chloe, preciso da sua ajuda. Estou no bar em que conheci a Megan.
Ela suspirou decepcionada antes de bloquear o aparelho e enfiá-lo na bolsa. Caminhou mais alguns metros até finalmente entrar no bar tão badalado. Rompendo a multidão entre rostos desconhecidos, ela encontrou um que conhecia bem.
No balcão em frente ao bar, ela encontrou Ruan, seu cunhado.