O jantar acabou, Helena.
Cinco meses.
Foi o tempo que levou pra tudo mudar, sem que eu percebesse quando começou.
A casa antes fria agora tinha som de vida.
De manhã, o cheiro de café se misturava ao som da voz de Arthur discutindo com alguém ao telefone. Às vezes, ele interrompia a reunião só pra perguntar se eu tinha comido.
Outras, aparecia na cozinha, camisa dobrada até os cotovelos, fingindo que sabia fazer panquecas.
As consultas médicas viraram parte da nossa rotina.
Ele nunca perdeu nenhuma.
Mesmo quando dizia que não podia, sempre dava um jeito de aparecer, mesmo que atrasado, de terno e com aquela expressão séria que fazia todas as enfermeiras olharem.
Mas bastava eu deitar na maca e o som do coração de Aurora preencher o consultório, que o rosto dele mudava.
Era como se o mundo inteiro parasse pra caber naquele som.
— Está crescendo rápido demais. — ele sempre dizia, com um meio sorriso, tocando minha barriga com uma delicadeza quase tímida.
— É só puxar você. — eu respondia, rindo.
E ele