KATHERINE SALLES

CAPÍTULO 002

O corredor parecia não ter fim enquanto seguia atrás dele. O som abafado do elevador soou, e as portas se abriram para um espaço exclusivo. Subimos em silêncio, apenas o som suave da música ambiente do hotel preenchendo o ar. 

Quando as portas se abriram, entendi por que ele havia me trazido ali. 

A suíte ocupava todo o último andar. Paredes de vidro exibiam a cidade em um mar de luzes cintilantes, e móveis minimalistas, mas caros, davam ao ambiente um ar de poder e sobriedade. Era o tipo de lugar que parecia ter sido feito para pessoas que nunca precisaram perguntar o preço de nada. 

Meu chefe, Ethan Lancaster, fechou a porta atrás de nós e caminhou até uma escrivaninha próxima à janela. Pegou um notebook de couro preto e o colocou diante de mim. 

— Preciso que revise este contrato. É importante. — O tom era calmo, mas direto, como se estivesse me testando. — Vou resolver um assunto rápido e volto. 

Olhei para ele, confusa. 

— Agora? 

— Sim. — Ele se aproximou apenas o suficiente para que eu sentisse o peso do seu 

olhar. — Trabalhar pode ser… uma boa distração. 

Quase retruquei lhe xingando mentalmente de narcisista, mas não tinha forças para discutir. Assenti, puxando a cadeira. Ele saiu sem olhar para trás. 

O documento estava carregado de termos jurídicos e cláusulas comerciais. Meus olhos percorriam as linhas, mas minha mente insistia em recordar daquelas fotos. 

Cada palavra se misturava com flashes da festa, com a expressão congelada de Letícia, com a voz fria do meu pai e a postura insensível da minha mãe em ao menos ter tentado vir em meu socorro. 

As lágrimas começaram a cair, silenciosas, deslizando pelo rosto e pingando sobre o teclado. Eu as ignorava, limpando-as com o dorso da mão sempre que embaçavam minha visão. 

Horas se passaram ou talvez minutos, eu não sabia ao certo; até que finalmente salvei 

o arquivo. 

Fechei o notebook, sentindo o corpo pesado. Ethan ainda não havia voltado. Levantei-me e comecei a andar pela suíte, tentando não pensar. Foi quando vi, sobre uma prateleira de vidro iluminada, uma coleção de bebidas caras, uísques envelhecidos, vinhos raros, conhaques importados. 

Minhas mãos agiram antes que minha razão pudesse impedir. Peguei uma garrafa de uísque, li o rótulo em uma língua que não reconhecia e, sem pensar, tirei a tampa. O aroma forte queimou meu nariz. 

A primeira dose desceu rasgando, aquecendo meu peito. A segunda veio mais fácil. A 

terceira, quase doce. Não contei mais depois disso. Tudo o que eu queria era me entorpecer para esquecer os últimos acontecimentos que estava ao ponto de me colocar completamente louca. 

Quando a porta da suíte se abriu, eu já estava sentada no chão, encostada ao sofá, gargalhando sozinha de uma lembrança sem graça. 

— Eu sabia que você não ia resistir — a voz dele cortou o ar, carregada de ironia. 

Tentei focar os olhos, mas a figura de Ethan parecia se mover levemente. 

— Sabe senhor Lancaster… — murmurei, enrolando o nome na língua. — Você sabia… que homens… são todos lixo? 

Ele fechou a porta, largando as chaves sobre a bancada. 

— É isso que você acha? — perguntou, com a sobrancelha arqueada. 

Dei um gole direto na garrafa e respondi, sem pensar. 

— Meu noivo… meu lindo noivo…- abri os braços para demonstrar toda a sua grandeza- Estava com a minha melhor amiga. Três anos… foi jogado no lixo… Malditos três anos! — bati a garrafa no carpete, sem força suficiente para quebrá-la. — E você sabe o pior? Eles sorriam… nas fotos… como se fossem… como se fossem… 

As palavras se perderam em um soluço. 

Ethan me observava com aquela expressão impassível, como se estivesse analisando cada movimento meu. Quando tentei me levantar, minhas pernas falharam, e ele segurou meu braço. 

— Vem, antes que você quebre algo. 

— Não quero sua ajuda… — resmunguei, tentando afastá-lo, mas ele me ergueu com 

facilidade e me carregou até o sofá. 

— Então fica aí. — A frieza na voz dele foi quase um alívio. 

Sem a menor cerimônia, ele me largou no sofá, e eu afundei nas almofadas. Ainda ouvi, de algum lugar longe, ele murmurando algo sobre “trabalho e drama não se misturam”, mas o som da minha própria respiração pesada cobriu o resto. 

                                                                         *** 

 

Quando abri os olhos, a luz suave do amanhecer filtrava-se pelas cortinas. O cheiro de madeira e perfume masculino me envolvia, e a superfície sob mim não era o sofá macio da noite anterior… era algo maior, mais quente. 

Virei a cabeça devagar e, antes que minha mente entendesse, meus dedos tocaram algo firme e definido o peito nu de um homem. Congelada, segui o movimento do braço até encontrar o rosto de Ethan, adormecido a poucos centímetros do meu. Seu braço me envolvia, pesado e seguro, e minha mão… minha mão estava repousada exatamente sobre os músculos do peitoral dele. 

Meu cérebro demorou um segundo para processar. Então, o horror explodiu. 

 — Aaaaaah! — O grito saiu agudo, cortando o silêncio da manhã. 

 

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