KATHERINE SALLES

CAPÍTULO 003

O grito ainda ecoava no quarto quando Ethan Lancaster passou a mão pelo rosto, os olhos semicerrados pela luz que atravessava as cortinas. Sua voz soou grave, rouca de sono e irritação. 

— Você já se esqueceu de tudo? — Ele ergueu uma sobrancelha, encarando-me de cima, ainda sentado na beira da cama. — Foi você quem subiu aqui. 

A indignação me travou por alguns segundos. 

— Eu… o quê? — gaguejei, sem saber se era mais pela surpresa da acusação ou pela memória nebulosa da noite anterior. 

Ele suspirou, o tipo de suspiro de quem não tem paciência para discutir antes do café da manhã. 

— Olha, não tenho tempo pra isso agora. Tenho uma reunião com um cliente daqui a pouco. — Levantou-se, pegou o relógio sobre a cômoda e prendeu no pulso. — Fique aqui, tome um banho e cure essa ressaca. 

Apontou para mim dando seu veredito final , no seu habitual estilo mandão - E nem pense em aparecer na empresa desse jeito. 

Eu abri a boca para retrucar, mas ele já havia sumido pelo corredor, deixando apenas o som seco da porta se fechando. 

Fiquei sentada na cama, olhando para o nada, até que o celular vibrou sobre a mesinha de cabeceira. Peguei, meio hesitante. Uma notificação piscava: Lembrete: Prova de vestido de casamento hoje às 14h 

Meu estômago afundou. Por um instante, achei que fosse alguma pegadinha cruel do destino. Mas não… era apenas a lembrança viva de que, até ontem, eu tinha um noivo. Até ontem, eu acreditava que meu relacionamento de três anos era sólido. E agora? Agora era apenas uma ferida aberta. 

Fechei os olhos, deixando o aparelho cair sobre o colchão. A cena das fotos voltava com nitidez, como em um looping infernal . O toque, os sorrisos cúmplices, a traição estampada em pixels. E, por mais que doesse, uma parte de mim não queria pensar nisso agora. 

Olhei ao redor. Estava numa suíte luxuosa, no último andar, com vista panorâmica da cidade. Já que minha vida tinha virado um caos, por que não tirar um mínimo proveito da situação? 

Peguei o telefone do quarto e disquei para a recepção, com a voz mais segura que consegui reunir. 

— Bom dia. Aqui é da cobertura. Quero fazer um pedido… bem generoso. 

Expliquei o cardápio mental que imaginei, pratos caros, sobremesas elaboradas, e uma garrafa de champagne francesa que provavelmente custava o que eu gastava em aluguel por um mês. A atendente, educada, anotou tudo sem questionar. Enquanto esperava, caminhei até o banheiro. Era enorme, revestido de mármore claro, com uma banheira de hidromassagem que parecia saída de um catálogo. Liguei a 

torneira e deixei a água quente encher o espaço, acrescentando sais perfumados e 

espuma até quase transbordar. Vesti o roupão felpudo branco que pendia na porta e soltei o cabelo, que ainda carregava o cheiro leve de uísque misturado a perfume masculino. 

Quando me acomodei na banheira, o calor da água relaxou meus músculos tensos. 

Fechei os olhos… e, inevitavelmente, a imagem veio. Eu, enrolada nos lençóis, abraçada ao meu chefe. Sentia de novo o peso do braço dele sobre mim, o calor de sua pele. 

O rosto pegou fogo. 

— Para com isso — resmunguei sozinha, afundando o queixo na espuma. — Ele é só um capitalista explorador. 

Estava perdida nesses pensamentos quando a campainha do quarto tocou. 

— Deve ser o serviço de quarto — murmurei, saindo da banheira e enrolando o roupão no corpo. Caminhei descalça até a porta, com a toalha ainda nos cabelos. 

Quando abri a porta, de fato era o garçom trazendo o carrinho de prata . Dei espaço para que ele entrasse e colocasse no meio da sala e então se despediu com um aceno de cabeça enquanto eu lhe agradecia com um ‘’obrigada’’ , fechei a porta e apressei meus passos indo em direção do carrinho , pulando eufórica quando destampei os aperitivos . Nunca que em toda a minha vida jamais imaginei que comeria algo assim no 0800 , porque logicamente descontaria na conta do chefe. Então era melhor aproveitar , uma chance dessas não cai do céu todos os dias. Empolgada me esbaldei nas iguarias , fechando meus olhos a cada mordida me sentindo deliciada com a vida de madame que estava levando , pelo menos por hora, a 

medida que era atendida com direito a 5 estrelas. 

Cerca de alguns minutos depois , outra vez alguém chama na campainha. Limpo minha boca com guardanapo me perguntando se seria o garçom para pegar o carrinho , entretanto nem fazia tanto tempo assim que ele havia trazido o café da manhã . Por acaso acha que eu havia comido tudo na velocidade do the flash? Ou talvez acabou esquecendo de trazer algo. 

Assim que abri a porta, dou de cara com uma mulher que estava parada ali. Alta, morena, os cabelos negros lisos caindo sobre os ombros, vestindo um tailleur ajustado que deixava claro seu bom gosto… e seu poder. O olhar dela varreu meu corpo de cima a baixo, lento e minucioso. 

— Quem é você? — ela disparou, com a voz carregada de desdém. — O que está fazendo aqui?- seus olhos varreram pelo quarto por cima dos meus ombros. 

Tentei abrir a boca, mas não tive tempo. Ela avançou um passo e, sem aviso, o som 

seco de um tapa estalou no ar. Minha cabeça virou com o impacto, e senti o calor 

imediato se espalhar pela bochecha. 

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