A dor, com o passar do tempo, se tornou uma velha companheira. Não importava o quanto eu tentasse afastá-la, ela sempre voltava discreta, silenciosa, mas implacável. Às vezes parecia adormecer, dando pequenas tréguas, mas nunca partia de verdade. E naquela noite, quando contei a verdade a Rosália, ela voltou com uma força que eu jamais havia sentido antes.

Eu não havia imaginado que seria assim. Não que ela reagisse daquela forma. Em meus pensamentos, eu deveria tê-la pressionado contra a parede, obrigado-a a olhar cada marca no meu corpo, cada cicatriz que o pai dela me deixou. Queria que visse o quanto a dor moldou o homem que sou. Mas o choque em seu olhar me desarmou. Fiquei sem ar diante da possibilidade de ela sentir nojo de mim. E eu não suportaria ver isso.

— Ana disse que você queria me ver assim que eu chegasse em casa.

A voz dela ecoou no corredor, suave, distante, e me fez despertar dos meus próprios pensamentos. Levantei os olhos e vi minha irmã parada à porta do escri