Nem Henrique nem eu dizemos uma palavra enquanto ele dirige para fora da garagem. O motor ronrona baixo, como um animal cansado, e o carro parece um bote para atravessar um mar de silêncio espesso.
Sinto-me humilhada.
Mortificada.
As palavras que me jogaram na sala o deboche abafado, a exposição que ainda queimam na garganta como brasa. Tudo aquilo só agora começa a se assentar dentro de mim, a tomar forma. Tudo o que consigo fazer é encolher o corpo no banco do passageiro, puxar os joelhos até o queixo e virar o rosto contra o vidro, para que Henrique não veja as lágrimas que escapam e correm pelo meu rosto.
— Tire suas botas do banco. Ele fala seco, sem me olhar.
— Foda-se. Respondo com um fio de voz, e limpo a face com a manga do suéter enorme que eu trouxe por acaso ou por medo hoje. A lã áspera me dá algum conforto; a peça é grande o suficiente para me esconder.
Ele me ignora.
Pela primeira vez, surpreendo-me porque ele não insiste, não as pega com a mão dura e as atira no