Olhei para Henrique. Havia nele a sombra de algo firme como ferro uma crença de que isso era necessário. Olhei para Kleber, com o queixo empinado e dedos entorpecidos de poder, para as mulheres que desviavam o olhar como se nada fosse com elas. E senti algo se romper em meu peito. Não era apenas indignação; era um acumulado de anos em que meu corpo e minhas vontades foram considerados secundários.
— Sim. Disse, em voz baixa e ríspida.
— Faça o que for preciso.
As palavras saíram como uma traição a mim mesma. Ao pronunciá-las, senti que me vendia por um momento de paz que não viria. Eu sabia que, ao dizer “sim”, nenhum deles entenderia a violência daquele consentimento coagido. Seria só mais uma linha assinada num livro de registros.
Quando a cortina se fechou atrás de mim, a sala continuou a respirar; lá fora, o mundo seguia como se nada tivesse acontecido. Eu me sentiria deslocada dali em diante e havia, no fundo do meu ódio, uma promessa. De que eu guardaria nomes, rostos e humilh