O Acordo e o Cercadinho
O sol nasce preguiçoso sobre a fazenda, tingindo o horizonte de tons dourados.
As galinhas já cacarejam do lado de fora e o mugido distante de uma vaca se mistura ao cheiro de café fresco que invade a cozinha.
Letícia está ali, com o cabelo amarrado de qualquer jeito, uma camiseta de algodão e expressão de quem ainda tenta decifrar o que é viver no campo.
Laura brinca no chão com uma colher de pau, feliz com qualquer coisa que faça barulho.
Henry entra, ainda com a barba por fazer e o chapéu ligeiramente torto.
O olhar dele é daquele tipo que analisa sem piedade, o mesmo olhar que Letícia já aprendeu a detestar e temer… e, secretamente, admirar.
— Vai quebrar a colher da cozinheira, mocinha. Ele diz, olhando para Laura, que gargalha e bate mais forte no chão.
Letícia ergue o queixo, defensiva.
— Ela não está fazendo nada de errado. Está brincando.
— Está transformando o chão num tambor, isso sim.
Ele cruza os braços, o semblante carregado de provocação.