Amara
A biblioteca parecia um lugar seguro para perguntas que não cabem em sala de reuniões. Encostei o livro na mesa, respirei, e chamei:
— Damian.
Ele apareceu no vão da porta como quem já esperava. Sem terno. Só ele. Caminhou até metade do caminho e parou, deixando que eu decidisse a distância.
— Você quer respostas — ele disse.
— Me fale mais sobre a marca.
O silêncio ficou denso por um segundo. Ele apoiou os dedos no encosto de uma cadeira e falou sem pressa, olhando nos meus olhos, não por cima de mim:
— A marca liga o que ainda está separado. Não é só pele. É alma. Depois dela, meu corpo sente o seu e o seu sente o meu. Febres, cansaço, fome, alívio. Dores e desejos passam de um para o outro. Não em tudo, não o tempo todo, mas o suficiente para que nenhum viva como se estivesse sozinho.
Meu estômago revirou de medo e curiosidade ao mesmo tempo.
— E se um cair? — perguntei.
— O outro cambaleia — respondeu, sem dourar. — Se um corre riscos extremos, o outro sabe. Se um sangra, o