Amara
Acordei com a cabeça pesada, como se a noite tivesse andado por cima de mim. Por alguns segundos, a mente tentou me proteger com a mentira do costume: pesadelo.
Bastou virar o rosto para a janela e ver a lua pálida recuando para lembrar que não havia sonho nenhum ali. Eu tinha visto. Ele. A transformação. O lobo negro com olhos de Damian.
Lavei o rosto, prendi o cabelo num nó alto e vesti uma camiseta larga com calça de moletom. Não era armadura, mas servia de fronteira.
No corredor, a luz de presença acendeu com aquele suspiro elétrico que eu já detestava. Desci para a cozinha. O café estava pronto, claro que estava. Nesta casa, até a água ferve com antecedência.
Damian me esperava na mesa comprida, mangas arregaçadas, sem gravata. Parecia humano o suficiente para confundir. Os olhos, porém, tinham o resíduo do âmbar, um brilho contido que não pertencia a reuniões de conselho.
— Dormiu bem? — perguntou, como se fôssemos um casal que volta de férias.
— O suficiente para lembra