Amara
O relógio da cobertura piscava perto da meia-noite quando ouvi o barulho da porta principal. Eu estava no quarto, mas o som dos passos pesados ecoou pelo corredor como trovão. Não eram passos calculados, eram arrastados, erráticos. O tipo de ruído que só um homem embriagado faz.
Levantei devagar, enrolada na manta, e segui até a sala. O cheiro de uísque se espalhava antes mesmo de eu entrar no escritório. A porta estava entreaberta. Empurrei com cuidado.
Damian estava lá, caído na poltrona de couro como um rei que não sabe mais o peso da coroa. O terno amassado, a gravata solta no colo, a camisa meio aberta. O cabelo desalinhado denunciava que a noite tinha sido mais longa do que qualquer outra.
Ele falava baixo, quase para si mesmo.
— Fera… precisa ser domada… correntes… — sussurrava, os olhos semicerrados, a mão segurando o copo vazio.
Fiquei parada, escondida pelo batente. A imagem me causou algo estranho: vulnerabilidade onde só conheci muralha. Um homem que sempre me encara