capítulo 3
Quando Nate estava prestes a ler o conteúdo, o celular dele tocou.

Do outro lado da linha, a voz de Selena soava trêmula, desesperada:

— Nate, minha barriga tá doendo muito... Vem me buscar, por favor? Eu tô com medo...

— Tô indo agora. — Ele respondeu rápido, tentando acalmar ela.

Sem olhar mais nada, assinou apressadamente o papel e saiu quase correndo, como se o mundo estivesse pegando fogo.

Fiquei olhando suas costas sumirem pela porta e sorri com frieza.

Essa casa, esse “nós”... já não existiam havia muito tempo.

À tarde, recebi uma mensagem dele: mandaria um presente de aniversário pra nossa filha, via entrega.

Abri o pacote. Era uma boneca Barbie.

Fiquei imóvel por alguns segundos.

Lembrei do ano passado, numa confraternização da firma. Levei nossa filha junto. Selena, pelas costas, a levou para uma casa do terror, achando “divertido”.

Lá dentro, atores fantasiados assustavam os visitantes. Um deles, vestido de Barbie zumbi, fez Aurora chorar sem parar.

Selena se irritou, e simplesmente a abandonou lá por mais de uma hora.

Procuramos por tudo até encontrar nossa menina desacordada, desmaiada de medo.

Quando acordou, contou que Selena a deixou sozinha de propósito.

Selena, claro, negou tudo. E Nate defendeu ela. Disse que nossa filha estava imaginando coisas. Que era só fantasia de criança.

Desde então, nossa filha passou a ter pesadelos só de ouvir o nome "Barbie".

E agora, ele achou que esse era um bom presente de aniversário?

Que pai absurdo.

Pensei em esconder, trocar, fazer qualquer coisa. Mas era tarde demais. Ela já tinha visto.

À noite, quando voltou para casa, Nate me surpreendeu com uma frase seca:

— Estou pensando em deixar a Selena morar aqui por um tempo.

Falou como se fosse natural. Como se não houvesse nada errado nisso.

E antes que eu reagisse, continuou, com frieza:

— Nosso casamento é escondido. Não quero que ela descubra. Você e a menina vão precisar sair por um tempo... só pra evitar confusão.

Olhei pra ele, incrédula.

— Então você quer nos tirar daqui pra viver um romance tranquilo com ela?

Ele franziu o cenho, impaciente:

— Não fala besteira. Vai ser só por enquanto. Nosso relacionamento não pode vir à tona... você ainda não tem esse lugar.

Ri, sem som, sem emoção.

Na cabeça dele, eu e nossa filha nunca passamos de um incômodo. Um fardo pra esconder.

Fiquei tão irritada que nem vontade de rebater eu tive.

Cansei. Cansei de tudo. Dele. Daquilo tudo. Que fosse.

Ao notar meu semblante fechado, Nate suavizou o tom, tentando parecer gentil:

— Daqui a alguns dias eu trago vocês de volta. Prometo que vou compensar tudo.

Fingi que acreditava. Assenti com a cabeça e subi em silêncio.

No fim das contas, sair agora ou depois dava na mesma.

O estrago já estava feito. Ele quebrou o que havia entre nós, e nenhuma compensação poderia consertar isso. Nem era mais o que eu queria.

Arrumei as malas depressa, peguei Aurora e saímos.

Foi quando a porta se abriu.

Selena entrou, puxando uma mala pesada.

Nate correu até ela e pegou a bagagem com pressa, cheio de cuidado:

— Eu disse que ia te buscar. Isso tudo pesa muito, não quero que você se canse.

No instante seguinte, pareceu lembrar da minha presença. Virou o rosto rapidamente e lançou um olhar nervoso na minha direção.

Selena me viu e parou, visivelmente surpresa:

— Loreta? O que você tá fazendo na casa do Nate?

Antes que eu pudesse responder, ele se adiantou:

— Ela e a filha estão sem lugar pra ficar. Me deram pena. Então deixei que ficassem aqui por um tempo.

Pena?

Antes, eu era apresentada como uma parente distante. Agora, virei uma pobre coitada sem teto.

Mesmo já acostumada com suas mentiras, cada nova desculpa machucava como da primeira vez.

O desprezo dele já não me envergonhava, só me enojava.

— Bom dia, Sr. Presidente. Bom dia, senhora. — Foi então que Aurora falou, educada como sempre, soltando a saudação no meio do silêncio.

Ao ouvir a própria filha o chamar de "senhor", Nate empalideceu. Perdeu o chão.

— O... o que foi que ela me chamou agora? — Perguntou, com a voz tremendo.
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