A tarde em Serra dos Riachos caía lenta, com o céu tingido por um laranja opaco e nuvens que pareciam guardar mais do que apenas chuva. Nos bastidores da sede da liderança, a movimentação era contida, mas densa — como uma respiração presa no fundo do peito coletivo da cidade.
Tânia caminhava pelos corredores de pedra com o ritmo calmo de quem parecia em paz — mas por dentro, estava alerta. Sentia a tensão no ar como uma corda prestes a estourar. E sentia algo mais… algo vindo de dentro. Um chamado abafado. Uma expectativa sem nome. Ela virou o corredor e viu Cauã, sozinho, encostado no parapeito que dava vista para o jardim interno do prédio. Os braços cruzados, a expressão cerrada. Ela não hesitou. — Tá tentando fugir ou meditando? — provocou, parando ao lado dele. — Tava quieto. Até agora. — respondeu, sem olhar, mas com um canto de riso na voz. — Você é tão mal-humorado sempre ou é só comigo?