A noite estava pesada, abafada, como se o próprio ar estivesse carregado da tensão que vinha consumindo Camélia. Sentada no alpendre da casa dos avós, ela encarava o nada, o peito apertado pela pressão crescente do vínculo que não lhe dava descanso. Desde a assembleia, desde a briga com Tânia, tudo parecia ter saído ainda mais do controle. Os cochichos pelas ruas haviam aumentado. Alguns olhares eram de curiosidade, outros de desconfiança. Os lupinos evitavam seu caminho, e os mais ousados até esbarravam nela de propósito. Ela não pertencia ali.
Ou, pelo menos, era o que queriam que ela acreditasse. Mas o que a corroía de verdade não era a matilha. Era Kael.Ela sabia que ele a sentia tanto quanto ela o sentia. Ele evitava olhá-la por muito tempo, mantinha distância, mas seu corpo sempre reagia quando estavam perto. E, pior, seu cheiro estava por toda parte. Camélia se sentia sufocada.Quando o ouviu se aproximar, seu corpo reagiu antes que ela pudesseCamélia se virou a tempo de ver Cauã parado na entrada do quintal, o olhar arregalado de incredulidade. Atrás dele, Madalena e Júlio estavam imóveis, como se tivessem testemunhado algo impossível de ignorar.Kael permaneceu firme. Seu olhar fixo nela. Sua Luna. Sua igual. Não havia mais volta. Mas o momento foi interrompido de forma abrupta.O som de passos pesados ecoou no quintal. Cauã avançava, punhos cerrados, o rosto carregado de fúria. Antes que alguém reagisse, tentou desferir um soco em Kael.O Alfa se moveu rápido, desviou com facilidade e, em um único gesto, empurrou Cauã, que caiu no chão com um rosnado. A força da voz de Kael fez os pelos do irmão de Camélia se arrepiarem. Seu corpo respondeu ao comando do Alfa, reconhecendo a hierarquia. Mas sua raiva fervia. Ele ergueu o olhar, acusador.Júlio e Madalena se aproximaram, ajudando Cauã a levantar. As mãos firmes nos ombros dele eram um aviso silencioso.— O que você pensa que
A manhã parecia se arrastar para Camélia. Desde que havia se levantado, tudo parecia estar dando errado. Mas, no fundo, ela sabia que não era exatamente o dia que estava ruim, era ela. Era a certeza esmagadora que sentia vindo de Kael.Agora, sentada diante do notebook, tentando focar na reunião, sentia-se cada vez mais distante. As vozes ao seu redor pareciam abafadas, como se viessem de um cômodo muito longe. Cauã e seus pais estavam ali, trabalhando ao seu lado, mas sua mente vagava.Quando a reunião finalmente terminou, ela ainda não conseguia se sentir presente. Algo dentro dela se revirava inquieto, como uma tempestade contida. Seu pai e Cauã já haviam saído, mas ela e Flor permaneceram, revisando documentos. Camélia tentava se concentrar, mas seu pensamento retornava, vez após vez, ao toque de Kael, ao calor dele, à forma como seu vínculo rugia sempre que tentava afastá-lo da mente.E então, veio de novo.Uma onda quente subiu por s
Enquanto Camélia tentava ignorar o vínculo, em outro canto da cidade, Kael não encontrava descanso.Kael havia caído no sono por alguns minutos, exausto depois do treino. Mas a escuridão não o acolheu. Em vez disso, foi tomado por uma sensação quente, intensa e inescapável. Camélia estava ali.Ela não o desafiava com palavras afiadas, não o olhava com resistência ou raiva. Ela apenas estava diante dele, os olhos cinzentos brilhando de um jeito diferente. Seu peito subia e descia num ritmo descompassado, e seus lábios estavam ligeiramente entreabertos. Ela o queria. E ele soube naquele instante que sempre a quis também.Seu cheiro o envolvia, denso, inebriante, Kael estava sentado na beira da cama quando Camélia deu um passo à frente. Lentamente, como se desafiasse o próprio tempo, ela ergueu a mão e tocou seu peito. O calor do toque dela queimou sua pele como uma faísca acendendo um incêndio.O rosnado veio baixo, involuntário. Ela sorriu.
Ele se afastou, quebrando o contato. Do outro lado, Camélia continuava andando com sua mãe, vendo a cena se desenrolar à sua frente, ela o sentiu primeiro. E agora o via ali, com Tânia. Era com ela que ele estava sentindo prazer mais cedo? O destino esfregava na cara dela o que ela já sabia. Camélia parou, e sua mãe notou, segurando seu braço. Flor seguiu o olhar da filha, vendo Kael e Tânia, foi quando Kael ergueu o olhar de novo e a encontrou. Camélia sustentou o olhar, sem piscar. Flor apertou o braço da filha e disse, sua voz baixa, mas firme: — Vamos, querida. Nós viemos em busca de uma distração. E é isso que vamos ter. Camélia soltou um suspiro pesado e deixou a mãe puxá-la para longe, ela passou por Kael a passos firmes, sem olhar para trás. Mas ele a acompanhou com os olhos. Ele queria pedir que ela ficasse. Queria dizer que não era o que parecia. Mas não precisava. Ele senti
A noite estava calma quando Camélia e sua mãe voltaram para casa. Depois de experimentarem os famosos bolinhos de queijo com mel apimentado e os drinks típicos da cidade, ela finalmente conseguiu esquecer Kael — ao menos por alguns momentos. Ao entrar na sala, encontrou Cauã jogado no tapete, assistindo algo na Netflix, com uma expressão preguiçosa no rosto. — Ora, ora, um jovem de 29 anos largado em casa vendo TV em vez de aproveitar a vida lá fora. — Camélia zombou, jogando-se no sofá ao lado dele. Flor riu da interação dos filhos e balançou a cabeça. — Vocês dois... Bom, hoje foi um dia puxado. Minha cabeça ainda tá zonza dos drinks que provamos. Vou tomar um banho e me aconchegar com o pai de vocês. Boa noooite, crianças. — cantarolou antes de sumir pelo corredor. Camélia e Cauã fizeram uma careta idêntica. — Ah, mãe! — resmungaram juntos antes de caírem na ris
Até que algo prendeu o olhar de Camélia: na lateral da costela dele, marcado na pele, havia um triskele. O símbolo a atraiu de um jeito inexplicável, arrepiando sua pele. Kael percebeu.— Tá gostando do que tá vendo, lobinha? — provocou, puxando a calça.O rosto de Camélia ardeu. Ele era lindo. Um perigo. Ela tentou conter a fome que crescia dentro de si, mas falhou. Kael sentiu.O cheiro de Tânia chegou como um soco. Instintivamente, seu cheiro se espalhou, sobrepondo o da outra. Reivindicando.Kael congelou. Os olhos se fecharam por um segundo, os punhos cerrados ao lado do corpo. Quando os abriu de novo, estavam em chamas.— Camélia… se continuar fazendo isso, eu não vou conseguir responder por mim.Ela deveria parar. Mas não queria.— Então não responde.O mundo parou.Kael avançou. Os corpos colidiram. O beijo veio intenso, urgente, como se o tempo tivesse cobrado por cada segundo de distância. Cam
Os dedos dele traçavam caminhos preguiçosos pela pele nua de sua cintura, desenhando círculos invisíveis, como se estivesse tentando acalmá-la. Mas Camélia não conseguia relaxar completamente. O prazer ainda pulsava em seu corpo, mas sua mente não silenciava. Kael percebeu. Ele ergueu a cabeça levemente, apoiando-se no cotovelo, e a observou. — Você quer falar o que está passando na sua cabeça ou vai tentar fugir disso? — Sua voz saiu baixa, preguiçosa, mas atenta. Camélia desviou o olhar para o teto, mordendo o lábio. — Eu só... — Ela umedeceu os lábios, hesitante. — Eu só estava pensando sobre tudo isso. O vínculo, nós dois, o que aconteceu... e sobre ela. Kael ficou em silêncio por um momento antes de se mover para sentar-se na cama, os músculos ainda tensos pelo desejo que não se dissipava completamente. — Você ainda acha
Camélia afundou o rosto nas mãos, ansiosa e agitada. — Eu não acredito que isso tá acontecendo. Kael deslizou a mão por suas costas, acariciando sua pele nua com a ponta dos dedos. — Relaxa, lobinha. Minha mãe vai gostar de você. Ela se virou para encará-lo, olhos semicerrados. — Não é essa a questão! Ele sorriu, puxando-a para um beijo rápido antes de roçar o nariz no dela. — Vamos. Melhor enfrentar isso de uma vez. Camélia respirou fundo e aceitou a mão dele, sentindo o coração disparado conforme desciam as escadas. Kael e Camélia desciam as escadas lado a lado. Ele mantinha a mão na cintura dela, um gesto possessivo e protetor ao mesmo tempo. Mas Camélia sentia o estômago revirar de nervoso. — Você tem certeza de que sua mãe não vai querer me matar? — murmurou baixinho, lançando um olhar de canto para