DORIAN
A maçaneta ainda está em minha mão quando escuto a resposta.
— Pode.
Duas sílabas. Uma permissão. Um convite. Um aviso. Não sei ao certo.
Abro a porta devagar, como se temesse o que vou encontrar do outro lado. E temo. Porque não estou pronto. Porque não tenho defesa contra o que ela é quando baixa a guarda.
A luz do abajur está acesa. Fraca. Amarelada. A única iluminação no quarto. A cortina vibra com o vento de fora, e a chuva tamborila contra o vidro como uma canção insistente. O trovão já se dissipou, mas o estrago que deixou não foi no céu — foi nela.
Lara está sentada no meio da cama, o edredom puxado até o peito, os ombros nus tremendo discretamente. O cabelo solto cai sobre os braços, e seus olhos, ainda marejados, me procuram como se me odiassem por estar ali... e me implorassem para não ir embora.
Não é a Lara que conheço. Não é a mulher que me enfrenta com sarcasmo, que me desafia com o olhar, que provoca só para me irritar.
É outra.
Uma que raramente aparece. E quan