DORIAN
Eu a escuto antes de vê-la.
O som do zíper. O rodar abafado das rodinhas da mala contra o carpete espesso. Um som que não deveria existir dentro deste quarto, desta casa, desta vida que, aos poucos, reconstruímos juntos.
Sinto o corpo reagir antes da mente entender. Ela. Com a mala. Com o olhar baixo. Com a alma embalada e prestes a ser despachada para longe de mim.
Meu coração para por um instante.
E depois dispara como se precisasse correr até ela antes que fosse tarde demais.
— Lara? — minha voz sai baixa, mas cheia de algo que eu não consigo conter.
Ela não responde. Apenas continua andando em direção à porta, como se eu não estivesse ali, como se eu não existisse.
Passa por mim como se o ar entre nós fosse irrespirável.
E quando a mão dela toca a maçaneta, algo dentro de mim grita.
Grita de um lugar antigo.
De um lugar quebrado.
De um passado onde ela foi embora e não voltou.
— Não. — A palavra sai como um sussurro rouco. Um pedido. Um alerta. Uma súplica.
Ela para.
Mas nã