LARA
O som da mala sendo aberta quebra o vazio, mas esse ruído soa como uma afronta. Como se até as malas estivessem revoltadas com as palavras da minha mãe.
Meus dedos percorrem o zíper com uma lentidão ensaiada. Não porque eu não saiba o que levar, mas porque não quero admitir o que isso significa.
Não estou fugindo.
É o que repito como um mantra.
Estou apenas me afastando.
Me dando espaço para não gritar.
Para não quebrar.
Para não dizer mais do que já disse.
Ou pior: para não implorar por algo que talvez ela já tenha escolhido abandonar.
Não consigo entender minha mãe. Ela parece uma pessoa diferente. Quer dizer, entendo o que um amor mal-resolvido pode fazer conosco. Sei o quanto a falta de Dorian me machucou ao longo desses anos e sou grata pela segunda chance que tivemos e ficaria feliz se fosse o mesmo caso com minha mãe, mas como confiar em um homem que tem uma longa lista de golpes atrás de si?
Jogo duas camisetas na mala. Depois algumas calças, como se cada peça fosse uma a