DORIAN
A primeira coisa que ouço é o som dos pneus no cascalho. Discreto. Contido. Como se até a chegada dele tivesse ensaiado um papel. Me posiciono na parte superior da escada, com a visão exata do saguão de entrada, onde David circula em silêncio, ajustando a postura como quem já prevê o que vai acontecer.
O carro estaciona.
Porta se abre.
E ele desce.
Leandro — ou Rodrigo, ou Luiz, ou seja lá qual nome ele pretende usar hoje — veste uma camisa branca impecavelmente passada, calça social cinza, sapatos lustrosos. O cabelo penteado para trás, o relógio caro, o sorriso fácil. Um homem comum que tenta parecer extraordinário.
Mas os olhos...
Os olhos não sorriem.
E é por isso que fico ali, parado, observando de cima, como se assistisse a uma peça. O tipo de espetáculo onde os personagens fingem não saber que estão sendo observados. Um teatro de máscaras tão bem construídas que só os bastidores revelam a verdade.
Dona Natália surge do corredor como se estivesse flutuando. O vestido flor