Naquela manhã, Kate se vestiu com precisão milimétrica.
Escolheu um vestido executivo vermelho, justo, que marcava sua figura. O decote era discreto, mas o suficiente para impor, seu cabelo loiro estava preso num coque alto e elegante, e os lábios, vermelhos como o vestido, eram uma promessa de poder.
Kate não era sensualidade barata, era poder real.
Quando desceu do carro, no estacionamento do prédio onde ficava seu escritório, o segurança lhe sorriu com respeito.
— Bom dia, senhora Langley.
— Bom dia, Tom — respondeu com sua segurança habitual, retribuindo um sorriso.
Subiu e mal chegou ao saguão, os advogados e assistentes já falavam de sua vitória mais recente.
— Langley! Incrível o de ontem, não? Deu uma surra no Reid.
— Não para de surpreender, Kate.
Ela apenas sorria, agradecia, e avançava. Até que Eva, sua secretária, a interceptou com tablet na mão e um sorriso brilhante.
— Sua agenda, chefe. Às dez você tem reunião com o pessoal do Straton Banking. Às onze, videoaudiência com Madri. Às duas, revisão de provas no caso Winters. E...
Kate pegou seu café enquanto Eva continuava falando. Parou um segundo para revisar uns arquivos sobre uma mesa lateral.
— Ah, e quase esqueci — disse Eva se lembrando. — Você tem um novo cliente.
Kate ergueu a vista.
— Um novo?
— Sim. Super bonito, aliás. Impecável. Daqueles que entram e fazem todo mundo do andar se calar. E, segundo a recepcionista... tem dinheiro. Muito. E... — deu uma cotovelada com malícia — pediu você especificamente.
Kate piscou, desconcertada.
— A mim?
— Sim. Pediu exclusivamente a advogada Langley. Disse, textualmente, que queria "a melhor de Londres".
Kate levantou uma sobrancelha.
— E onde está?
— No seu escritório.
Kate assentiu entregando o café que já não pretendia beber e do nada, sentiu uma estranha pressão no peito, não deu importância e caminhou para seu escritório, mas antes de entrar, parou.
Se arrumou o vestido, passou os dedos pelo coque para garantir o penteado e respirou fundo.
— Vamos, Kate... é só mais um cliente. Prepare seu sorriso.
Abriu a porta.
— Bom...
A palavra se afogou na garganta e seu corpo inteiro se paralisou, enquanto seu coração parava de bater por um segundo eterno.
Porque sentado diante de sua mesa, com um porte impossível de ignorar, estava Grayson Maxwell, seu marido.
O mesmo cabelo preto, olhos azuis como gelo, idênticos aos de Oliver. Terno escuro, postura imponente, rico, elegante e malditamente intimidante.
Por sua vez, Grayson não pôde evitar percorrê-la com o olhar, de forma lenta. Desde os saltos até a linha do pescoço, se detendo em seus lábios carmim. Lembrando o sabor. Ela era a mesma mulher de quem havia se afastado sete anos atrás.
Só que agora... era ainda mais perigosa.
E bonita.
E sua.
Mas como antes, se obrigou a enterrar essas emoções, manteve a expressão fria e com um único movimento, se pôs de pé.
Se aproximou e quando ficou diante dela, estendeu a mão.
— Um prazer conhecê-la, advogada Langley.
Kate se obrigou a sair do choque.
Inalou fundo. Endireitou as costas. Ajustou a frieza no rosto como uma máscara conhecida. Depois estendeu sua mão com a mesma neutralidade elegante que Grayson acabara de lhe mostrar.
— Um prazer... senhor...
— Maxwell — disse ele, sem tirar os olhos.
O contato dos dedos foi breve, mas elétrico. Uma corrente surda que ambos sentiram, mas que nenhum mencionou.
Foi então que Kate a notou.
Sentada ao lado da mesa, com as pernas cruzadas e o corpo inclinado para trás com falsa naturalidade, havia uma mulher, mas ela não sorria.
A mulher se pôs de pé e se grudou em Grayson, enrolando o braço no dele com uma possessividade calculada.
A mulher a olhou de cima a baixo. Depois, sem tirar os olhos dela, falou apenas para Grayson:
— Ela será quem vai cuidar do meu divórcio?
Kate não pôde evitar um leve arqueado de sobrancelhas e Grayson, sem se mover, respondeu sem olhar para a mulher, porque continuava focado em Kate, era impossível não fazê-lo.
— Sim. Ela é a melhor da cidade. Então vai se encarregar de que... seja livre.
Kate notou como essas duas últimas palavras carregavam veneno. Como se não fossem apenas para sua cliente.
— Tem certeza? — perguntou a mulher com desconfiança. — Não parece ter muita experiência com casos delicados. Ou de alto perfil...
Kate bufou com ironia.
Fechou a porta e caminhou para sua mesa com uma elegância precisa, se sentou, cruzou as pernas e a olhou direto.
— Ah, claro... os casos "delicados" — Kate ergueu uma sobrancelha com desdém e um sorriso apenas insinuado. — Fique tranquila. Já ganhei julgamentos mais complicados que sua lista de cirurgias plásticas.
Grayson desviou apenas o rosto. Mas seus lábios apertados traíam sua diversão.
E mais ainda... a surpresa. Essa ferocidade, essa língua afiada... não se lembrava dela, e gostava mais do que admitia.
A modelo franziu a testa. Estava claramente irritada, mas estendeu a mão com uma gentileza fingida.
— Sou Sienna Rowe. A namorada do Gray.
Kate piscou.
Como se a palavra não tivesse feito sentido.
— Sua... sua namorada?
Sienna sorriu com suficiência, apertando mais o braço de Grayson contra o seu.
— Isso mesmo.
Kate engoliu seco, mas não se notou. Porque sua expressão não mudou. Porque era uma advogada, uma profissional. Uma mulher que já havia aprendido a enterrar tudo.
Embora por dentro, seu mundo acabasse de girar.