O ar no escritório se espessou e Kate sentiu a caneta estalar entre os dedos, a pressão de seu aperto ameaçando parti-la em dois. Não eram ciúmes, claro que não. Era indignação, pura e cortante como o fio de uma navalha.
Como se atrevia? Como tinha a ousadia de aparecer ali com sua amante, para pedir que a separasse legalmente? Que tipo de jogo doentio era esse?
Ia falar, dizer algo... quando o telefone de Sienna tocou.
— Querido, — cantarolou ela, olhando a tela. — é meu empresário.
Jogou um beijo no ar e saiu do escritório, e assim que a porta se fechou, soltou a caneta com um golpe seco e se recostou na cadeira.
— Não vou pegar este caso.
Grayson apenas ergueu as sobrancelhas, estreitando os olhos até que seu olhar se transformou numa linha perigosa.
— O que disse?
— O que ouviu, senhor Maxwell. Não vou divorciar sua amante.
Ele soltou um riso baixo, quase admirativo, e se acomodou na cadeira, os músculos do torso tensos sob o terno impecável.
— Está com ciúmes? É por isso que não quer pegar o caso da Sienna?
Kate sentiu o calor subir pelo pescoço.
— Não estou com ciúmes. Não teria por que estar. Afinal, não somos nada além de um maldito papel. No entanto, há limites, e me recuso a ser quem busca a liberdade da mulher com quem me faz de corna.
Grayson a observou, impressionado. A Kate que se lembrava havia sido fogo contido, medo disfarçado de submissão. Esta, por outro lado, o enfrentava com o peito erguido e a língua afiada.
Se levantou devagar, com a elegância perigosa de um predador, ajustando o botão do paletó e começou a contornar a mesa.
— O que está fazendo? — perguntou Kate, ficando nervosa.
Suas mãos pousaram nos braços da cadeira e seu rosto agora estava tão perto que podia distinguir as manchas douradas em seus olhos azuis.
Exatamente o mesmo azul de Oliver.
Kate engoliu, ao mesmo tempo que seu corpo reagia sem sua permissão. O calor lhe subiu do abdômen até as bochechas.
Mas Grayson não estava muito melhor.
O perfume dela o envolvia, fazendo suas mãos apertarem a cadeira, como se isso fosse suficiente para não perder o controle.
Então seu olhar... se cravou na boca vermelha, perfeita, tão igual à que se lembrava, e aceitou que a desejava, igual à primeira vez.
Mas não ia demonstrar, então foi mais duro e cruel do que já era. Porque ele estava ali com uma missão e não sairia até consegui-la.
— Se recusar — murmurou com uma calma perigosa — vou afundar sua família ainda mais. Vou deixá-los na rua, Kate. A ponto de terem que pedir esmola.
Ela passou dos nervos à raiva num instante. Seus olhos se acenderam.
— É isso que sabe fazer, não é? Ameaçar. Destruir pessoas.
Ele riu, e as covinhas nas bochechas a traíram, acelerando seu coração.
— Quando se tem poder — sussurrou ele, se inclinando um pouco mais — , se tem tudo. Até a capacidade de esmagar quem se colocar no seu caminho.
Kate apertou os lábios e depois riu.
— Faça o que quiser. Não me importa.
Grayson piscou. Não esperava isso, pelo menos não essa resposta tão... indiferente.
— Não se importa?
— Nunca fui importante para eles — disse, sustentando seu olhar. — Há anos que não sei da minha família. Por que me doeria se você os afundar?
Algo escuro passou pelos olhos de Grayson e se lembrou de Reginald assinando aquele contrato. Entregando-a como se fosse mais um ativo que precisava ser vendido. Como se ela não valesse nada.
Sua mandíbula se tensou e um nó de raiva o apertou por dentro.
Então sentiu. Uma mão, suave e morna, sobre seu peito, sua respiração se cortou e baixou o olhar para aqueles dedos delicados, depois para ela.
E Kate, se dando conta do que havia feito, o empurrou e se afastou rapidamente.
— No entanto... — disse, recuperando o controle — tenho um acordo para te propor. Um que não vai recusar.
Grayson a olhou, com o desejo e a curiosidade se chocando dentro dele.
— Fale.
— Vou pegar o caso — disse ela, sem parar de olhá-lo. — Mas se conseguir que ela se divorcie... você vai me dar o meu. Vou ganhar e você e eu vamos nos divorciar.