Na sala, Kate e Oliver estavam na fileira central, compartilhando um balde enorme de pipoca, com uma manta sobre as pernas. O dragão animado na tela rugia com força, e Kate se virou para o filho, abriu os olhos exageradamente e fingiu um rugido, tirando as mãos como garras.
— Sou o dragão devorador de crianças! — disse, se jogando sobre ele com cócegas.
— Mamãe! Chega! — gritou Oliver entre risos. — Já estou grande para isso!
— Pois para mim sempre será meu bebê — disse ela com ternura, parando para olhá-lo.
Oliver tinha o cabelo loiro como ela e os olhos azuis como ele, além de muitas outras coisas, e sempre que o olhava, via ele nele.
— O que foi, mamãe?
— Nada, meu amor — disse tentando sorrir.
Oliver a abraçou e beijou sua bochecha.
— Quando crescer vou cuidar de você, assim como você cuida de mim.
Kate ficou sem palavras e sentiu um nó na garganta, acariciou a bochecha dele, com os olhos brilhando.
— Eu vou cuidar de você sempre, porque te amo.
— Eu também, mamãe.
O momento era perfeito... até que algo mudou.
Algumas fileiras mais abaixo, um menino se levantou do assento. Tinha a mesma idade de Oliver, talvez um pouco mais, caminhava entre as poltronas rindo enquanto seu pai, com um sorriso, o perseguia fingindo ser um monstro. O menino gritava feliz, buscando refúgio nos braços do papai.
Oliver os olhou... e parou de rir.
Ficou observando em silêncio, com a cabeça inclinada e as mãos quietas sobre a pipoca. E aquela imagem, tão simples e cotidiana... o desarmo por dentro. Não disse nada. Apenas baixou o olhar.
Kate percebeu e seu coração se apertou.
— Oli... — sussurrou.
— Posso te perguntar uma coisa? — a interrompeu.
— Claro, meu amor.
Oliver hesitou um segundo, mas depois a olhou com olhos sérios, como se finalmente se atrevesse a dizer o que sempre havia guardado.
— Por que papai nos abandonou?
Kate sentiu como a alma se partia.
— Se ele se casou com você... por que não nos quis? É por minha culpa?
Suas palavras eram suaves, mas tinham fio e se cravaram onde mais doía. Kate tentou sorrir, mas não conseguiu.
— Oli, me escute. Não foi por você. Você é o melhor que me aconteceu. É brilhante, gentil, forte... Nunca foi sua culpa, meu amor.
— Então por quê? — insistiu ele. — Todos os meus amigos brincam com seus pais. No parque, no futebol. E eu... sempre estou sozinho... você trabalha muito, eu sei. Mas... se você ligar para ele, talvez venha. Posso falar com ele, mamãe. Vou dizer que sou bom, que não vou incomodar. E assim... não estarei mais sozinho.
Kate não o deixou terminar. O abraçou com toda a força que pôde, com os olhos fechados e engolindo as lágrimas.
— Você nunca está sozinho, meu amor. Nunca. Eu sempre estou com você, sempre...
Oliver apoiou a cabeça no peito dela, em silêncio.
E Kate, enquanto o abraçava, entendeu o que sempre havia evitado: seu filho precisava de um pai.
Durante o caminho, Oliver havia adormecido e Kate o olhou em silêncio, seu coração ainda apertado pelo que havia acontecido no cinema.
Não iam para casa.
Não para a mansão Maxwell.
Iam para o apartamento de Aisling.
Porque desde que Oliver fez um ano, vivia com sua melhor amiga, essa era a única forma de mantê-lo completamente longe de qualquer risco.
Não queria que Grayson soubesse de Oliver. Porque embora ele nunca tivesse voltado, temia que alguém da mansão, algum motorista ou uma criada, pudesse falar mais do que devia.
Soube da gravidez três meses depois do casamento, e quando soube, foi para a Irlanda, sozinha, e Oliver nasceu lá. Seus pais sabiam.
Não confiava neles.
Porque assim que soubessem, usariam seu filho para chantagear Grayson, para tirar dinheiro dele. E não deixaria que seu filho fosse usado como ela.
Naquela noite, depois de acostar Oliver e cobri-lo com sua coberta favorita, Kate fechou a porta com cuidado. E na sala, Aisling a esperava com uma taça de uísque.
— Como foi o filme? — perguntou, passando o copo que já tinha pronto para ela.
Kate bebeu um gole e depois se deixou cair ao lado dela, exausta.
— Tudo ia bem... até ele perguntar pelo pai.
Aisling ergueu as sobrancelhas, sem surpresa.
— E o que esperava? Tem sete anos e um QI alto. Não é bobo, Kate. Além disso... é uma criança. Já estava demorando para fazer isso.
Ela assentiu devagar, piscando para que não se notassem as lágrimas.
— E o que devo fazer? Dizer que o pai dele é um demônio ambulante que se casou comigo só para se vingar da minha família?
Aisling ficou em silêncio por um momento. Ela era a única que sabia toda a verdade. A única que esteve lá quando Grayson desapareceu e Kate se quebrou, que a ajudou a escapar, a se reconstruir, a sobreviver.
— Não, claro que não... — murmurou por fim. — Mas ele é uma criança e precisa de um pai.
Kate se tensou.
— Por favor... não comece com a mesma coisa.
— Por que não? Está sozinha há sete anos. Nem um encontro, Kate. Não porque não lhe proponham... mas porque você não se deixa. Não superou nada. Continua apegada. Já tem que esquecê-lo. Talvez ele já tenha se casado.
Kate se levantou do sofá sem olhá-la, caminhou até a janela e o reflexo das luzes de Londres pintava sombras no vidro.
— Eu... não estou pensando nele.
— Claro — Aisling soltou um riso baixo. — Dá para notar. Ainda está apaixonada pelo Ethan.
Kate se virou lentamente, mas não respondeu. Não adiantava. Porque por dentro sabia a verdade. Ethan, seu ex-namorado, já era parte de uma lembrança fechada.
Não pensava nele. Pensava em Grayson, mas isso nunca admitiria.
— Sabe que mais? Vou embora. Amanhã tenho um caso cedo...
— Sim, sim, claro — murmurou Aisling, apoiando o copo na perna. — Sempre foge.
Kate já estava pegando a bolsa quando a voz da amiga a deteve.
— Mas chegará o momento em que o passado vai te bater na cara, Kate.
A porta se abriu.
— E você não vai conseguir fugir.
Kate não se virou e saiu. Mas algo, no fundo do peito, dizia que Aisling estava certa.