O resto do domingo passou devagar, mas Louise não conseguia tirar da cabeça o número que piscava na tela: #712M.
Ela tentava se distrair — lavou roupa, colocou música, até organizou os livros empilhados no quarto — mas, a cada pausa, lá estava aquele pensamento insistente, como uma batida suave no fundo da mente: “Você já o viu antes.”
“Besteira”, dizia a si mesma.
Mas o coração, inquieto, não obedecia à lógica.
À noite, sentou-se diante do notebook. A luz azul da tela desenhava contornos frios em seu rosto.
O site da SoulSync ainda estava aberto, pedindo um último passo: “Deseja iniciar contato com seu par?”
Louise hesitou.
Se clicasse, estaria dando vida a uma coisa que talvez fosse apenas um truque digital — ou pior, uma ilusão bonita.
Mas a curiosidade venceu.
Ela clicou.
O chat abriu com um som delicado, quase como o tilintar de sinos.
Por alguns segundos, nada aconteceu.
Depois, uma mensagem surgiu.
#712M: Olá, Louise.
O nome dela na tela provocou um arrepio inesperado.
Não era comum alguém escrever o nome dela logo de início — parecia íntimo demais.
Ela digitou, sem saber direito o que dizer:
Louise: Oi… você também caiu nessa coisa de aplicativo curioso?
A resposta veio rápida, com uma naturalidade desconcertante.
#712M: “Cair” não. Acho que fui empurrado até aqui.
Ela riu sozinha.
Havia algo familiar naquele jeito de escrever.
Algo na escolha das palavras — simples, mas com um peso leve, como se ele também pensasse em sentimentos mais do que em frases.
Louise: Então o algoritmo acertou?
#712M: Talvez o algoritmo só tenha escutado o que o tempo tenta dizer pra gente.
Louise franziu o cenho, o coração acelerando.
As palavras dele pareciam ecoar algo antigo.
O que o tempo tenta dizer…
Por que soava tão conhecido?
Ela tentou disfarçar a inquietação.
Louise: Você fala bonito. É escritor?
#712M: Não. Só observo as coisas que as pessoas esquecem de sentir.
Louise mordeu o lábio inferior.
Aquela frase era idêntica a algo que ela mesma havia escrito em seu caderno, há semanas.
Coincidência? Talvez. Mas as coincidências, às vezes, são apenas disfarces do destino.
Ela fechou o notebook com força, como se o gesto pudesse calar o que estava nascendo ali.
Mas, deitada na cama, o pensamento voltou — suave e insistente.
Aquela voz digitada tinha um ritmo familiar, como se ela já o tivesse escutado, talvez em outra vida, talvez num sonho.
Nos dias seguintes, a conversa virou rotina.
De manhã, antes das aulas, uma notificação surgia:
#712M: Bom dia, cor de domingo.
E Louise sorria, mesmo quando o dia não tinha cor nenhuma.
O resto do domingo passou devagar, mas Louise não conseguia tirar da cabeça o número que piscava na tela: #712M.
Ela tentava se distrair — lavou roupa, colocou música, até organizou os livros empilhados no quarto — mas, a cada pausa, lá estava aquele pensamento insistente, como uma batida suave no fundo da mente: “Você já o viu antes.”
“Besteira”, dizia a si mesma.
Mas o coração, inquieto, não obedecia à lógica.
À noite, sentou-se diante do notebook. A luz azul da tela desenhava contornos frios em seu rosto.
O site da SoulSync ainda estava aberto, pedindo um último passo: “Deseja iniciar contato com seu par?”
Louise hesitou.
Se clicasse, estaria dando vida a uma coisa que talvez fosse apenas um truque digital — ou pior, uma ilusão bonita.
Mas a curiosidade venceu.
Ela clicou.
O chat abriu com um som delicado, quase como o tilintar de sinos.
Por alguns segundos, nada aconteceu.
Depois, uma mensagem surgiu.
#712M: Olá, Louise.
O nome dela na tela provocou um arrepio inesperado.
Não era comum alguém escrever o nome dela logo de início — parecia íntimo demais.
Ela digitou, sem saber direito o que dizer:
Louise: Oi… você também caiu nessa coisa de aplicativo curioso?
A resposta veio rápida, com uma naturalidade desconcertante.
#712M: “Cair” não. Acho que fui empurrado até aqui.
Ela riu sozinha.
Havia algo familiar naquele jeito de escrever.
Algo na escolha das palavras — simples, mas com um peso leve, como se ele também pensasse em sentimentos mais do que em frases.
Louise: Então o algoritmo acertou?
#712M: Talvez o algoritmo só tenha escutado o que o tempo tenta dizer pra gente.
Louise franziu o cenho, o coração acelerando.
As palavras dele pareciam ecoar algo antigo.
O que o tempo tenta dizer…
Por que soava tão conhecido?
Ela tentou disfarçar a inquietação.
Louise: Você fala bonito. É escritor?
#712M: Não. Só observo as coisas que as pessoas esquecem de sentir.
Louise mordeu o lábio inferior.
Aquela frase era idêntica a algo que ela mesma havia escrito em seu caderno, há semanas.
Coincidência? Talvez. Mas as coincidências, às vezes, são apenas disfarces do destino.
Ela fechou o notebook com força, como se o gesto pudesse calar o que estava nascendo ali.
Mas, deitada na cama, o pensamento voltou — suave e insistente.
Aquela voz digitada tinha um ritmo familiar, como se ela já o tivesse escutado, talvez em outra vida, talvez num sonho.
Nos dias seguintes, a conversa virou rotina.
De manhã, antes das aulas, uma notificação surgia:
#712M: Bom dia, cor de domingo.
E Louise sorria, mesmo quando o dia não tinha cor nenhuma.
Falavam sobre tudo — música, livros, medos, lembranças da infância.
Ela descobriu que ele gostava de fotografar o céu, mesmo nos dias nublados, e que tinha uma risada que “não cabia nos textos”, como ele dizia.
Mas o aplicativo era misterioso.
Nenhum dos dois sabia o nome real do outro, nem onde morava.
A SoulSync dizia que o anonimato fazia parte do “processo emocional puro”, impedindo julgamentos visuais ou sociais.
Era, segundo o site, “a conexão das essências, não das aparências”.
Mesmo assim, Louise começou a criar imagens em sua mente.
Imaginava como seria o rosto dele.
Será que o olhar era mesmo cor de mel, como o do sonho?
Será que o destino podia mesmo ser programado?
Numa quarta-feira chuvosa, enquanto esperava o ônibus da faculdade, ela recebeu uma nova mensagem.
#712M: Você acredita em coincidências?
Louise: Acredito. Mas acho que o nome delas é só um disfarce bonito pra destino.
#712M: Então talvez isso explique por que te vi hoje.
Louise congelou.
Os dedos tremiam sobre o celular.
Louise: Como assim me viu?
#712M: Eu estava atravessando a praça, perto da universidade. Você passou correndo, com um livro na mão. Sorriu pra uma senhora com um guarda-chuva vermelho.
E eu soube.
O coração dela quase parou.
Aquela cena tinha acontecido minutos antes.
Louise: Era você?
#712M: Não posso responder ainda. O sistema bloqueia informações pessoais. Mas… o algoritmo nunca erra, Louise.
A chuva engrossou, e ela sentiu as gotas frias misturando-se ao calor do rosto.
Guardou o celular, tentando entender o que sentia.
Medo? Curiosidade? Ou algo maior — aquele tipo de emoção que nasce onde o controle termina?
Nos dias seguintes, ele sumiu.
Nenhuma mensagem, nenhum sinal.
O silêncio parecia pesar dentro da casa, dentro dela.
Louise tentou ignorar, mergulhando nos estudos e nas anotações da faculdade.
Mas a ausência dele fazia o mundo perder um pouco da cor.
Certa noite, já de pijama, abriu o laptop e entrou novamente no site.
Uma notificação piscava em vermelho:
“Conexão interrompida por atualização de sistema. Deseja recuperar o histórico de mensagens?”
Ela clicou sem pensar.
Mas, ao invés do chat, uma janela diferente apareceu.
Um aviso:
“O usuário #712M pertence ao grupo de testes avançados. Algumas interações podem envolver simulações de IA baseadas em perfis humanos reais.”
Louise sentiu o sangue gelar.
— Simulações? — sussurrou.
Então ele… não existia?
Mas logo abaixo, uma linha quase escondida piscava em letras menores:
“Alguns perfis híbridos podem conter fragmentos de memórias humanas.”
Ela ficou olhando para aquilo por longos minutos.
A mente girava em perguntas que não tinham resposta.
E, no meio do medo, um pensamento impossível surgiu:
E se o sonho veio primeiro porque ele já existia em algum lugar entre o real e o digital?
Louise encostou a testa no teclado, suspirando.
Por que ela se deixava envolver por algo que nem sabia se era humano?
Quando levantou o rosto, uma última mensagem piscava no canto da tela, datada de minutos atrás — mesmo com o sistema “interrompido”:
#712M: Nem tudo que é criado deixa de ser real. Às vezes, a alma encontra novos corpos pra continuar sentindo.
Ela prendeu a respiração.
O cursor piscava, esperando uma resposta.
Mas não havia o que dizer.
Lá fora, o vento mexia as cortinas, e a luz da lua entrava tímida no quarto.
Louise fechou os olhos.
Talvez estivesse enlouquecendo.
Ou talvez estivesse apenas sendo tocada por algo que a ciência ainda não tinha nome.
Naquela noite, sonhou de novo — o mesmo olhar cor de mel, a mesma voz que sussurrava:
“O amor é o intervalo entre o medo e o recomeço.”
E quando acordou, o celular vibrava na mesa.
Uma nova notificação.
O remetente: Desconhecido.
A mensagem:
“Nos vemos logo, Louise.”
Ela ficou imóvel, sentindo o coração bater como se anunciasse o início de outra história.
Talvez o amor não fosse acaso, nem algoritmo.
Talvez fosse apenas o som invisível que o destino faz quando encontra alguém — em qualquer forma, em qualquer mundo.