O sol mal consegue atravessar as cortinas pesadas do quarto, mas ainda assim noto o dourado suave se espalhando pelo chão. Enrico começa a resmungar no berço ao meu lado e eu me levanto com aquele corpo pesado de quem dormiu pouco, mas dormiu em paz. Ontem à noite foi a primeira vez, em semanas, que senti algo parecido com esperança.
Quando pego Enrico no colo, escuto passos no corredor. É Sebastian. Ele entra devagar, ainda de muletas, mas sem a rigidez fria de antes. Hoje há uma suavidade no jeito dele me olhar, como se aquela conversa tivesse aberto uma fresta de luz.
— Bom dia. — A voz dele é rouca, recém-acordada.
— Bom dia. — Respondo, ajeitando Enrico contra o peito.
Ele se aproxima, hesita um segundo e então pergunta:
— Posso? — apontando para o bebê.
Meu coração dá um salto.
Normalmente, ele evitava esse tipo de contato, sempre receoso de não saber o que fazer. Eu entrego Enrico, devagar, observando como ele segura o filho com mais segurança do que imagina t