Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: CHARLOTTE KNIGHT
O alarme do meu celular tocou às 9h, um som irritante que me lembrou que eu estava casada com um homem que acordava às 5h para conquistar o mundo antes do café. Eu não dormi. A imagem de Julian encostado na moldura da porta, com aquele sorriso predatório, era mais eficaz que qualquer estimulante. Eu precisava canalizar essa energia nervosa em algo produtivo: uma rotina de exercícios intensa e um look que gritasse: "Eu sou uma Evans, estou no controle, e fiz sexo ontem à noite, mas você nunca vai provar." Optei por um conjunto de seda cor de marfim e um penteado formal. A armadura Blair Waldorf estava de volta. Às 13h, o almoço estava servido na sala de jantar. A Matriarca, Eleanor Knight, era o elemento central. Alta, magra, com a elegância cruel das mulheres que nunca fizeram nada de útil na vida, mas exigem o máximo de obediência. — Charlotte, querida — Eleanor sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. — Você parece revigorada. O casamento concordou com você. — A segurança financeira sempre concorda comigo, Eleanor — retruquei, pegando uma torrada com abacate e ignorando a salada de frutas que parecia mais apropriada. Damien, sentado à minha frente, estava lendo relatórios em um papel impresso, como se o almoço fosse apenas um intervalo entre reuniões importantes. — Seu pai me ligou, Charlotte — disse Damien, sem desviar o olhar do relatório. — Está satisfeito com o ritmo da fusão. — Eu sou eficiente. Isso não é uma surpresa. O problema veio da ponta da mesa. Julian. Ele estava atrasado, como sempre, e entrou na sala vestindo uma camiseta de banda de rock, jeans rasgados e botas. Um insulto direto ao formalismo do almoço. Eleanor estreitou os olhos, o rosto rígido. — Julian. Eu pedi expressamente que se vestisse para a ocasião. — E eu pedi expressamente para não ter que participar de nenhuma ocasião — Julian pegou uma garrafa de cerveja artesanal na geladeira, ignorando o vinho branco. — Eu já vou sair. Só vim buscar algo que esqueci. Ele sentou-se na cadeira mais distante, de frente para mim, com a indiferença de um convidado forçado. — Você está demorando muito em Miami, Julian — Eleanor continuou, a voz cortante. — Sua presença aqui é desnecessária e, francamente, um fardo para a imagem de seu irmão. Julian deu um gole na cerveja, olhando fixamente para mim. — Eu amo minha casa, mamãe. E meu irmão acabou de se casar com a mulher mais interessante que já vi em anos. Seria rude partir. Eleanor bufou. — Não seja ridículo. Charlotte está aqui para ser a parceira discreta de Damien. Não uma… distração para você. Eu senti meu sangue ferver. Eu era uma herdeira, uma empresária, e não uma propriedade para ser encaixada em caixas. — Não sou propriedade de ninguém, Eleanor — intervi, a voz fria e controlada. — Eu sou a garantia de segurança do seu filho. Nada mais, nada menos. — Exatamente, Charlotte. Garantia. E garantias devem ser impecáveis. É por isso que não precisamos de Julian por perto, confundindo as coisas. Ele é caos. Você é ordem. Julian riu, uma risada curta e amarga. — É uma pena, não é, mamãe? Eu sou o caos. E Charlotte me disse que adora bagunça. Ele jogou a isca. E eu tive que mordê-la. — Eu adoro bagunça, Julian — respondi, apoiando os cotovelos na mesa e inclinando-me na direção dele. — Mas eu só a tolero quando sou eu que estou no controle da bagunça. — É a mentira que você se conta — rebateu ele, seus olhos verdes fixos nos meus. — Você quer que alguém tome as rédeas de vez em quando. Você só tem medo de não conseguir controlá-lo depois. Damien finalmente levantou os olhos do seu relatório. — Julian. Eu sugiro que você pare. — Sugestão registrada, Irmão — Julian disse, mas não para Damien. Para mim. — Você está tensa, Charlotte. Eu posso ver a corda de controle apertada na sua garganta. — Não há tensão — respondi, tentando manter a voz firme. — Apenas a frustração de ter que negociar um almoço com os Knight. É uma perda de tempo que não estava prevista no meu contrato. Julian se levantou, finalmente. Ele pegou o copo de uísque que estava no balcão da cozinha, e parou ao meu lado, bem perto. — Eu vou voltar para Los Angeles. Mas eu vou deixar o meu convite aqui. No dia em que seu casamento te cansar, me ligue. Sem contratos. Ele fez uma pausa, olhando para mim de cima, e seu hálito de uísque pairou sobre mim. — E, por favor, pare de usar o motorista do meu irmão para isso. O coitado está tremendo. Não faça com os funcionários o que você deveria fazer com o homem que te deseja de verdade. Ele deu um último gole no uísque, virou as costas para a família e saiu da sala. Um silêncio ensurdecedor pairou. Eleanor estava pálida de raiva. Damien estava imóvel, com a mandíbula travada. Eu estava paralisada, sentindo-me despida sob os olhares de ambos. Julian tinha me desvendado, desrespeitado Damien e humilhado Eleanor, tudo em três minutos. Damien foi o primeiro a se mover. Ele se levantou, jogando o relatório na mesa. — Charlotte, venha ao meu escritório. Agora. Não era um pedido. Era uma ordem. E pelo olhar em seus olhos, ele não queria falar sobre fusões.






