Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: CHARLOTTE KNIGHT
A manhã na Mansão Knight seguia o ritmo metódico de Damien. Café da manhã formal, notícias financeiras, a Matriarca ditando os próximos eventos sociais. Eu estava vestida em um terninho de seda, pronta para minha primeira reunião na empresa de Damien, um ato de solidariedade para a fusão. — Você revisou o balanço que te enviei ontem à noite? — perguntou Damien, tomando um gole de café preto. — Revisei. Os números do asset management estão sólidos. Mas sugiro que repense a estratégia de sustentabilidade; o mercado está exigindo mais transparência, e seus ratings ESG estão baixos. Ele fez uma careta, mas acenou em concordância. — Vou analisar. De repente, a porta da sala de jantar se abriu com um estrondo que não era típico da etiqueta Knight. — Bom dia, Família Imaculada! Julian. Ele estava de volta. Ele usava óculos de sol, uma camiseta branca amassada, e parecia que tinha dirigido a noite toda. Ou talvez nem tivesse dormido. Ele jogou uma mochila de couro em uma das cadeiras e sorriu, ignorando a expressão de pedra no rosto de Damien. — Achei que você estivesse em LA — a voz de Damien era baixa e perigosa. — Eu estava. Mas LA estava muito fria. Miami tem um calor… especial. Ele veio até a mesa. Ignorou Damien. Ignorou a Matriarca. Olhou diretamente para mim. — Bom dia, Charlotte. Você parece revigorada. O jantar de ontem te fez bem? — O desempenho foi nota nove — eu disse, pegando a aliança no meu dedo e girando-a. — Mas a conversa foi entediante. Julian riu, e o som fez meu estômago dar um salto. Ele pegou uma xícara de café, sem se sentar. — Sim, meu irmão é ótimo em contratos, mas péssimo em drama. É por isso que ele me tem. Eleanor Knight, a Matriarca, finalmente interveio. — Julian, se você veio apenas para incomodar, peço que se retire. Temos um dia de trabalho e Charlotte tem deveres a cumprir na empresa. — Que deveres excitantes — Julian revirou os olhos. Ele voltou o olhar para mim, com intensidade repentina. — Charlotte, preciso do seu conselho. Tenho uma nova aquisição, um carro clássico. É um motor antigo, difícil de manter, cheio de problemas, mas bonito de ver. Devo vendê-lo, ou mantê-lo e tentar a todo custo fazê-lo funcionar? Era um código. Um desafio. O motor antigo, difícil de manter, mas bonito de ver. Era eu. Ou talvez ele. — Eu sempre prefiro o que é seguro e previsível, Julian — eu disse, sabendo que estava mentindo e que ele sabia. — Mas se algo é tão único e desejável, eu diria para você mantê-lo. E se não funcionar, quebre-o com suas próprias mãos. Damien colocou o guardanapo de pano na mesa, o som parecendo uma sirene. — Chega. Charlotte, vamos. Você tem uma reunião em quinze minutos. Julian, você tem cinco minutos para sair da minha propriedade antes que eu chame a segurança. Julian piscou para mim. — Um homem previsível. Você não tem sorte, cunhada. Ele colocou a mão no balcão da mesa de café e se inclinou, a boca próxima ao meu ouvido. — Não se esforce demais hoje. Eu te ligo para te resgatar do tédio. E eu sei que você não usou a máscara no jantar. Está esperando por mim. E ele estava certo. Ele se afastou e, enquanto Damien se levantava para me conduzir para a porta, Julian fez a coisa mais audaciosa de todas. Ele pegou uma das torradinhas de Eleanor, passou uma camada absurda de geleia, e a comeu com um sorriso malicioso. — Tchau, mamãe. Tchau, Charlotte. Não deixem o Robô se superaquecer. E ele saiu, rindo, deixando a sala de jantar em um estado de caos perfumado. *** No caminho para o escritório, no Mercedes-Benz dirigido por um novo motorista (Damien obviamente dispensou Mateo), o silêncio era uma bomba-relógio. — Ele não vai parar — disse Damien, mantendo o olhar fixo para frente. — Eu percebi. Seu irmão tem um senso de drama subdesenvolvido. — Ele não é subdesenvolvido, Charlotte. Ele é um parasita com um talento para a destruição. E a destruição dele desta vez é você. Ele parou o carro no semáforo e finalmente olhou para mim. A frieza nos seus olhos se transformou em algo mais parecido com advertência. — Eu não me importo com seus casos extraconjugais, Charlotte. Eu me importo com a discrição. Se você me envergonhar com Julian, eu não vou apenas anular o contrato e pegar sua herança. Eu vou garantir que seu nome seja sinônimo de escândalo financeiro em todos os círculos de negócios. Você não vai conseguir um empréstimo em Wall Street, muito menos um emprego. O que ele estava dizendo era que ele tiraria de mim a única coisa que eu valorizava mais do que a fortuna: o respeito do mercado. — Entendi o recado, Damien. Sem Julian. Mas enquanto ele voltava a acelerar em direção ao seu império de concreto, meu celular vibrou. De: (xx) xxx -JULIAN Mensagem: Regra quebrada. Eu estou no telhado do prédio ao lado do seu escritório. Saia para a varanda em dez minutos. Eu sei que você vai. Eu olhei para o meu novo marido. A única coisa mais tentadora do que quebrar uma regra era quebrar uma regra imposta por Damien Knight. *** — Sente-se aqui e leia estes relatórios. A reunião começa em cinco minutos. Não me envergonhe, Charlotte. Ele mal me deu tempo para respirar. Eu estava sentada à frente de uma mesa de conferência gigantesca, com relatórios financeiros empilhados. Meu celular, colocado discretamente ao lado da minha pasta, vibrou novamente. Julian Knight: Varanda ou eu entro. Eu ignorei a mensagem. Julian não teria coragem. O prédio de Damien era uma fortaleza de segurança de nível bancário. Ele seria barrado na recepção por usar jeans rasgados. Eu me concentrei nos números. Fusões, aquisições, riscos. Meu elemento. Minha zona de controle. — Sem Julian — murmurei para mim mesma, repetindo o comando de Damien. Eu estava no meio da análise de uma demonstração de resultados quando a porta de vidro fosco se abriu. Entraram Damien, três advogados de alto nível e o CEO da *startup* que ele estava prestes a adquirir, um homem barbudo e visivelmente nervoso. — Senhores, esta é Charlotte Knight, minha esposa e parceira na fusão — disse Damien, a voz profissional e fria. — Vamos começar. Damien sentou-se na ponta, eu à sua direita, e a reunião começou com a frieza de sempre. Eu fiz algumas perguntas inteligentes para demonstrar meu valor, e o CEO barbudo parecia impressionado. A *Parceira Ideal* estava em ação. Eu estava prestes a intervir sobre a avaliação de risco quando a porta se abriu com um estrondo violento que fez todos os copos de água tremerem. Todos na sala se viraram, chocados. Lá estava ele. Julian Knight. Ele não estava de terno. Estava com a mesma camiseta amassada e os jeans da manhã, mas agora usava um casaco de couro preto com spikes nos ombros e óculos de sol dentro da sala. Ele tinha um estojo de guitarra surrado pendurado nas costas. Ele parecia ter acabado de sair de um show de rock em Vegas, não de um prédio corporativo de bilhões. — Olá, Família! Desculpem a interrupção — ele disse, com a voz alta e zombeteira. — Eu só vim devolver uma coisa. Damien se levantou, a expressão no rosto dele era uma mistura letal de raiva e humilhação. — Julian. Saia. Agora. — Calma, irmão. Não seja rude com seus convidados — Julian andou casualmente até a mesa. Ele parou ao meu lado e, ignorando a todos, colocou as mãos sobre os meus ombros e me deu um beijo barulhento na bochecha, com uma encenação exagerada. — Eu não queria atrapalhar sua reunião super sexy de M&A — ele disse, olhando para mim. — Mas Charlotte se esqueceu de uma coisa. E é uma emergência de vida ou morte. Ele puxou a mochila surrada das costas, abriu o zíper e, com um floreio dramático, tirou... a máscara de renda preta que eu havia guardado na minha bolsa na noite anterior. Ele não a jogou na mesa. Ele a segurou delicadamente com a ponta dos dedos, mostrando-a para toda a diretoria de Damien Knight. — Ela deixou isso na minha cama. Sabe como é, as noites de casamento são difíceis, e ela precisa de uma ajuda para dormir. Não queria que ela passasse o dia pensando nisso. O silêncio na sala era tão denso que eu podia ouvir a respiração nervosa do CEO da startup. Eu senti meu rosto queimar. Julian não estava apenas me expondo; ele estava pintando um cenário de caso proibido e paixão lasciva bem no meio da fusão de negócios de Damien. Damien estava vermelho. — SAIA DA MINHA EMPRESA, JULIAN! Julian deu de ombros, sorrindo para o público. — Certo. Já que a Charlotte não quis sair para a varanda para me ver, eu vim até ela. Próximo passo? Talvez eu a leve para jantar de máscara, irmão. Tenham uma boa fusão. Ele jogou a máscara de renda preta bem na minha frente. Ela caiu suavemente sobre o balanço de resultados que eu estava lendo. O contraste da renda sexy com os números frios era brutal. Julian fez uma reverência teatral e saiu da sala, tão rapidamente e caoticamente quanto havia entrado. O CEO limpou a garganta. Os advogados pareciam que precisavam de férias. Eu não olhei para Damien. Peguei a máscara, amassei-a e enfiei-a no bolso do meu terninho. — Sinto muito, senhores — minha voz era calma e profissional, a máscara Blair Waldorf estava de volta, ainda que ligeiramente rachada. — O irmão de Damien sempre foi… irreverente. É um pequeno aborrecimento familiar. Eu olhei para o Ceo. — Onde estávamos? Ah, sim, o valuation. Voltemos ao trabalho, por favor. A reunião recomeçou, mas o ar estava pesado e contaminado. A discrição, a única regra que importava, estava em pedaços. Quando a reunião terminou, os advogados saíram primeiro, claramente apressados. O CEO da startup me olhou com uma mistura de pânico e admiração. — Sra. Knight… — Sim? — sorri. — Nada. Apenas… parabéns pela sua determinação. Ele saiu, deixando-me sozinha com Damien. Damien não gritou. Ele andou até a porta e a fechou, certificando-se de que o som do trinco fosse final. — Você me humilhou, Charlotte. Meu negócio. Meu futuro. — Eu não fiz nada, Damien. Seu irmão fez. — Seu silêncio foi a sua cumplicidade. Você recebeu a mensagem dele. Você não o denunciou. E agora, você tem um motorista e um irmão bad boy me transformando no assunto de fofoca da minha própria diretoria. Ele se aproximou da mesa, o rosto sombrio. — O contrato acabou. Meu sangue gelou. — O quê? Não. Você não pode. — Posso. Cláusula 5, Subseção C: Risco de reputação elevado e intencional causado pela Segunda Parte. Você foi avisada. Você arriscou tudo, e agora vai pagar. Ele pegou o meu case de relatórios da mesa. — Você está fora da fusão. Fora da empresa. E quando eu tiver certeza de que Julian está fora de Miami, você estará fora desta casa. Eu vou te dar uma quantia, é claro. Mas não será o que você herdaria, e você não terá nenhum poder. Ele se virou e saiu. Eu estava sozinha no 40º andar, a Rainha do Controle que havia perdido tudo por causa de um sorriso tatuado e uma maldita máscara de renda. Eu me levantei, respirei fundo, e meu celular vibrou pela última vez. De: (xx) xxx -JULIAN Mensagem: Eu disse que você devia me ligar. Agora que você está na rua, podemos começar a brincar. Te vejo em breve, cunhada.






