Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: CHARLOTTE KNIGHT
Quanto a Julian, eu ignorei todas as suas mensagens - que variavam de textos a fotos aleatórias de arte de rua a pedidos diretos de resgate. Eu não estava mais disposta a ser a distração dele. Eu tinha garantido minha herança; agora, era hora de recuperar a discrição e a dignidade corporativa. O problema de hoje: o Almoço de família. Meus pais, a Dra. Lilian Evans e o Sr. Arthur Evans, vinham à mansão para o primeiro almoço formal pós-casamento com os Knight. Meus pais não eram pessoas calorosas. Eles eram acionistas. Seus abraços eram apertos de mão. Sua única preocupação era a estabilidade do casamento e a fluidez da fusão. Eu estava vestida com um conjunto Carolina Herrera, impecável. O Colar Imperial Knight estava no meu pescoço, pesando toneladas. Julian estava presente (para o horror de Eleanor), mas estranhamente contido. Vestia uma camisa de botão escura (um passo acima da camiseta de banda) e estava lendo um livro na ponta da mesa, em silêncio. Um lobo em pele de cordeiro. — Damien, o relatório trimestral foi excelente — meu pai, Arthur, disse, sem sequer me olhar. — Charlotte, você está ajudando Damien com a reestruturação da dívida? — Estou revisando a estratégia ESG, pai. E os números estão sólidos — respondi, engolindo a raiva antiga. Eu era uma ferramenta, não uma filha. Eleanor Knight, a Matriarca, forçou um sorriso para minha mãe. — Lilian, você deve estar tão aliviada. Damien traz a estabilidade que a Charlotte sempre precisou. Ela pode ser um pouco… volátil às vezes. Minha mãe deu de ombros, o rosto uma máscara de indiferença estudada. — A Charlotte tem seus defeitos, claro. Mas ela é inteligente o suficiente para saber onde o dinheiro está. Este casamento é o melhor investimento que ela faria. O tapa foi sutil, mas doeu. Mesmo casada, eu era apenas a garantia de um negócio. Julian, que havia estado em silêncio absoluto, fechou o livro com um clac suave. Ele olhou para minha mãe, e pela primeira vez, vi algo defensivo em seus olhos, direcionado a mim. — É surpreendente como vocês reduzem tudo a números. Charlotte é mais do que um investimento, Sra. Evans. Ela é a única pessoa nessa mesa com senso de humor. Eleanor olhou para Julian, furiosa por ele ter quebrado o silêncio. Meu pai franziu a testa. Damien permaneceu impassível. — E você é o romântico da família, Julian? — perguntou minha mãe, com ironia cortante. — Por favor. Sabemos que você só está aqui para causar drama. — Pelo menos eu admito o drama. Vocês fingem que não há nenhum, enquanto tratam sua filha como uma linha de crédito — Julian se inclinou para mim. — Charlotte, você comeu algo hoje? Não pareça tão tensa. Você conseguiu o que queria. O comentário dele foi um raio, atingindo a todos. Era a verdade. Eu havia vendido minha vida por estabilidade. Damien, o mestre do controle, interveio. — Julian, o almoço é sobre a fusão. Não sobre a análise familiar. — E o que é um casamento se não uma fusão familiar, irmão? — Julian rebateu, mas sem o tom de palhaçada exagerada. Estava sério, quase protetor. Minha mãe me encarou com o olhar de "calada ou você estraga tudo". Eu me servi de água com gás, retomando o controle da minha narrativa. — Meu pai tem razão. Voltando aos negócios, Damien. A reestruturação da dívida… Eu continuei a conversa de negócios com Damien, ignorando meus pais e Julian. Eu não podia permitir que Julian me defendesse. Eu não precisava de defesa. Eu precisava de dinheiro. Mas, enquanto falava com Damien sobre juros, senti o olhar de Julian em mim. Não era de provocação. Era de pena. E eu odiava pena mais do que odiava a frieza de Damien. O almoço terminou sem mais incidentes. Meus pais se despediram de Damien com um aperto de mão entusiástico e de mim com um beijo rápido no ar. A missão estava cumprida. Sozinha com os Knight, a tensão voltou. — Bom trabalho, Charlotte — disse Damien, sem emoção. — Seus pais reforçam a necessidade deste acordo. — Sim — eu disse, fria. — O acordo é a única coisa sólida na minha vida. Julian, ainda parado à mesa, se aproximou. Ele tirou um guardanapo de linho limpo da mesa. — Você está bem — ele sussurrou para mim. — A cena que fiz no seu escritório valeu a pena. Você precisava provar a si mesma que o contrato era mais forte que eles. — Eu não preciso provar nada para você, Julian. A única coisa que você provou foi que eu não posso confiar em você para proteger a minha reputação. Ele suspirou. — Eu sei. Eu sou o desastre. Mas o desastre é real. A segurança é a maior mentira que seu pai te contou. Ele estendeu a mão, o guardanapo dobrado. Eu o peguei, pensando que era um papel de bala. — O que é isso? — Um bilhete. Não abra na frente do Robô. E não me ignore por mais dois dias. Ele me deu uma piscadela de arrependimento e, finalmente, saiu da sala. Eu esperei Damien voltar ao seu escritório antes de desdobrar o guardanapo. Julian Knight: Eu sei que você ficou com vergonha. Não foi legal. Mas eu não consigo parar. Me encontre na minha cobertura em South Beach hoje à noite. Te mando o endereço. Sem motorista, cunhada. Traga a máscara.*






