Cláusula 9

POV: CHARLOTTE KNIGHT

Eu estava no 40º andar, sozinha na sala de conferências que agora cheirava a desgraça. Olhei para o relógio. O tempo de Damien para agir era curto; o tempo para a minha contra-ação, menor ainda.

Perder a herança e a reputação. Ele não estava blefando. Damien Knight podia me destruir legalmente.

Mas ele cometeu um erro: subestimou quem havia redigido o contrato.

Eu me recusei a entrar em pânico. Não era a hora de chorar ou ligar para Julian. Era a hora de ser a Herdeira Evans.

Eu peguei meu telefone e liguei para meu advogado, Sr. Black.

— O casamento está em colapso. Preciso de uma cópia imediata, codificada, do nosso Acordo Conjugal de Propriedade e Aliança, e foque na Cláusula 9.

Eu desliguei, sem dar satisfação. O Sr. Black sabia que, comigo, urgência era o único tom aceitável.

Eu saí da sala de conferências e, ignorando os olhares furtivos dos funcionários no hall, peguei o elevador privativo. Chegando ao térreo, encontrei meu carro esperando (o novo motorista parecia estar à beira de um ataque de nervos, mas pelo menos estava lá).

De volta à mansão, eu não fui para o meu quarto. Fui diretamente para a biblioteca de Damien. Onde os documentos eram guardados.

Dez minutos depois, o SMS do Sr. Black chegou. Eu abri o arquivo e li o Artigo VII, Secção C: Rescisão.

Eu mesma havia escrito aquela cláusula, com a frieza de quem planeja uma guerra.

A porta do escritório de Damien se abriu. Ele estava em casa. Mais cedo do que o normal, o que significava que ele havia vindo diretamente para executar a minha destruição legal.

— O que você está fazendo na minha biblioteca? — a voz dele era dura.

Eu ergui meu telefone, mostrando a tela com o texto legal.

— Eu estou lembrando a você, Senhor Knight, que você não pode anular este contrato, por mais que deseje.

Ele parou na porta, o corpo tenso.

— Eu posso e vou. Você me deu motivo e prova de risco.

— Não — eu sorri, friamente, a adrenalina limpando meu cérebro. — Você tem a Cláusula 5, Subseção C, Risco de Reputação. Mas eu tenho a Cláusula 9, Subseção B: Continuidade da Fusão.

A Cláusula de Ferro. O coringa que eu havia inserido.

— Se o casamento for dissolvido antes da conclusão formal da fusão entre Evans Capital e Knight Global — comecei, recitando de memória a lei que eu havia moldado —, e essa dissolução for iniciada por qualquer ação de Damien Knight, você será legalmente obrigado a pagar uma penalidade de desvinculação que anularia todo o lucro que você obteve com esta fusão.

O rosto dele permaneceu imóvel, mas seus olhos, frios como diamante, se arregalaram. Ele se lembrava da cláusula, mas provavelmente a havia relegado à categoria de "proteção extrema" para mim.

— É um valor que faria a diretoria do seu banco questionar a sua capacidade de controle de risco, Damien. Isso sim é um risco de reputação que nem o seu terno pode cobrir.

Ele deu um passo na minha direção, a voz perigosamente baixa.

— Você está blefando.

— Não estou. Eu mesma insisti nessa cláusula. Sua mãe precisava que a fusão ocorresse sem problemas. E eu garanto a você, se você me despejar por causa de uma máscara de renda e do seu irmão babaca, você vai ter que explicar à sua diretoria por que você jogou fora um bilhão de dólares de lucro por orgulho ferido.

Eu dei a ele um sorriso cortante, digno da minha reputação de herdeira sem coração.

— Você queria controle, Damien? Meus arabéns. Você está preso. Você tem que me manter como sua esposa até que a fusão seja concluída. Você não pode me dispensar.

Ele me encarou. Ele não estava vendo a esposa que acabara de traí-lo com o motorista e flertar com o irmão. Estava vendo o problema financeiro que eu representava.

— Você é uma cobra, Charlotte.

— E você é um predador que se apaixonou por dinheiro. E agora, a cobra que você tentou encurralar te mordeu.

Eu sabia que ele estava fazendo os cálculos. O prejuízo de anular o contrato agora versus o risco de me manter por mais alguns meses. O dinheiro sempre vencia em sua cabeça.

Ele finalmente relaxou a postura, mas a raiva permanecia.

— O que você quer?

— Que o contrato continue. Que o Colar Imperial Knight seja meu até o divórcio. E que você aceite o fato de que eu preciso de **distração**. Você não se importa com quem eu durmo, desde que seja discreto. O problema de Julian é seu, não meu.

Ele esfregou a têmpora. O Robô estava superaquecendo.

— Ótimo. Você venceu. O contrato está mantido. Mas Julian é a sua responsabilidade. Se ele causar mais um escândalo público, eu vou encontrar uma brecha. E confie em mim, eu vou.

— Eu não duvido. Agora — eu me virei para a porta. — Eu vou tomar um banho. E talvez ligar para o meu caos particular.

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