Mundo de ficçãoIniciar sessão
POV: Charlotte Knight
— Você está tomando um terceiro drinque em quarenta e cinco minutos, Charlotte. A voz era de Damien Knight, meu novo marido. Impecável, como sempre. Terno preto risca-de-giz, cabelo escuro milimetricamente alinhado. Ele não bebia; ele consumia água com gás. Olhei para ele por cima da taça de cristal, sorrindo de um jeito que indicava que eu estava perfeitamente ciente do meu consumo e que ele podia enfiar a preocupação dele onde o sol não brilhava. — É a lua de mel, querido. O contrato não proíbe a ingestão de álcool, apenas a incompatibilidade pública por embriaguez. Estou no limite da compatibilidade. Fique tranquilo. Ele apertou a mandíbula de leve, um micro-movimento que eu já havia catalogado como "irritação contida por Charlotte não agir como sua parceira ideal de negócios". — Não é a cláusula que me incomoda. É a imagem. A fusão ainda não foi totalmente liquidada. Ah, a fusão. O motivo da nossa união sagrada. Meu pai precisava da liquidez e do know-how de Damien. Damien precisava do meu portfólio e da segurança política que meu sobrenome garantia. O amor não estava convidado para a festa. — Eu sou a herdeira Evans, Damien. Minha imagem é de uma mulher rica que bebe. O escândalo seria eu ter um comportamento perfeito. Relaxe. Ele estava prestes a iniciar um novo diálogo sobre ROI (Retorno sobre Investimento) ou algo igualmente estimulante quando o garçom parou ao meu lado com uma bandeja prateada. — Mais um gim-tônica para a Senhora Knight? — perguntou ele. — Não fui eu que pedi — retruquei, estranhando. — Foi um presente — o garçom indicou com a cabeça para a entrada do clube. Eu segui o olhar. Lá estava ele. Julian Knight. O irmão mais novo de Damien. O bastardo da família. Se Damien era um terno caro, perfeitamente passado, Julian era uma jaqueta de couro surrada, cheia de história e com um cheiro delicioso de rebeldia e gasolina. Os olhos dele eram de um verde selvagem que me faziam esquecer temporariamente de como respirar, e ele tinha um sorriso que parecia me desafiar a cometer um crime. Ele vinha andando pela passarela do clube, ignorando a multidão. Parecia que ele estava sempre voltando de um assalto a banco, e o banco sempre era o coração de alguma mulher infeliz. — Uau. Achei que você não viria — disse Damien, sem emoção, quando Julian parou ao lado da nossa mesa. O contraste entre os dois era quase doloroso de se ver. — Perder a chance de brindar ao casamento de contrato do meu irmão mais velho? Nunca — Julian pegou a taça de gim-tônica na bandeja, me ignorando completamente, e bebeu um gole. — Ufa. Preciso de um banho de sal. Acabei de sair de Ibiza. Ele finalmente me olhou. O verde selvagem se fixou em mim. Eu senti a respiração falhar, um clichê idiota, mas real. — Charlotte. Você está perfeita. O vestido de casamento era lindo. Combinava perfeitamente com a cláusula de não-romance. Aquele era Julian. Irreverente, instantâneo e inútil. — Julian — falei, arrumando a postura e forçando meu sorriso mais Blair Waldorf: afiado e insincero. — Você chegou atrasado para o noivado, o casamento e o nosso futuro divórcio. Pontualidade não é o seu forte. Ele riu. Uma risada rouca e deliciosa que reverberou no meu peito. — O atraso faz parte do charme, cunhada. E sobre o divórcio… acho que vou ter que me esforçar para que isso não aconteça tão cedo. Gosto de coisas que meu irmão tem. Damien se inclinou, com a paciência esgotada. — Julian, pare com o teatro. Charlotte é minha esposa e parceira de negócios. Julian deu de ombros, pegou minha mão direita (a que não estava segurando o gim) e beijou minha aliança. Um beijo lento, demorado, que durou tempo suficiente para incendiar meus nervos. Ele não olhava para mim, olhava para Damien. — É uma pena que tenha se casado com o homem certo — ele sussurrou para mim, mas o som era alto o suficiente para Damien ouvir. — Porque eu sou a tentação errada que você precisa. Ele largou minha mão, erguendo a bebida no ar, e brindou ao meu rosto pálido e ao meu novo marido furioso. — Saúde ao contrato, Damien. E à cunhada mais gostosa que o dinheiro pode comprar. E tão rápido quanto chegou, Julian se virou e sumiu na multidão. Eu olhei para o gim-tônica que ele havia deixado comigo. Depois, para Damien que estava com uma expressão ilegível. — Ignorando a parte do "gostosa" e focando no "dinheiro pode comprar" — falei, tentando quebrar a tensão com humor. — Ele pelo menos entendeu a essência da nossa união, certo? — Acho que a lua de mel vai ter que ser adiada — disse Damien, com a voz baixa. — Vamos para casa.






