Francine deu duas batidinhas leves na porta entreaberta, equilibrando a bandeja com o cuidado de quem serve chá da realeza.
— Trouxe um agrado da cozinha — anunciou, com um sorriso doce demais pra ser só simpatia.
Denise ergueu os olhos por cima dos óculos. Estava sentada atrás da mesa, concentrada em um amontoado de contratos, com uma pilha de correspondências ao lado.
— Isso tudo é gentileza demais vindo de você — respondeu, desconfiada, mas divertida. — Vai ver bateu a febre?
— A febre do altruísmo, talvez. Acredite, é grave.
Filipe, sentado numa poltrona ao canto da sala, soltou uma risada abafada.
Francine pousou a bandeja sobre a mesa com movimentos ensaiados, quase cerimoniais. O aroma do bolo logo invadiu o ambiente.
— Fiz questão de trazer. Vocês trabalham tanto… um bolinho ajuda a adoçar o dia, né?
— Ou disfarçar veneno — brincou Filipe.
Ela riu, mas seus olhos não riram. Eles estavam fixos na pilha de correspondências, mais especificamente no envelope cinz