O amanhecer em Santa Clara trouxe um frio leve e um silêncio preguiçoso.
Camila movia a colher dentro da xícara de café, observando o vapor subir como se fosse o fôlego da casa.
Por fora, parecia calma. Por dentro, um turbilhão.
Desde a última visita de Ricardo, o coração dela tinha desaprendido o que era paz.
O bebê começou a chorar no quarto, e ela se apressou em pegá-lo no colo.
— Calma, meu amor… — sussurrou, embalando-o.
Os olhos dele, tão parecidos com os de Ricardo, a desarmavam sempre.
— Você herdou esse olhar teimoso — murmurou, sorrindo de leve. — Igualzinho ao dele.
Foi nesse instante que o barulho do motor lá fora quebrou o silêncio.
Ela reconheceria aquele som em qualquer lugar.
O coração disparou antes que o corpo reagisse.
Ricardo apareceu na porta, com o casaco encharcado e um sorriso tímido.
— Trouxe umas coisas. — disse, erguendo uma sacola. — E... uma desculpa pra te ver.
Camila respirou fundo. — Você podia ter arrumado outra desculpa.
Ele deu de ombro