A estrada de terra surgiu lentamente diante de Ricardo, como se o caminho de volta quisesse testá-lo a cada curva.
O sol começava a se abaixar, tingindo o céu de laranja e dourado, mas dentro dele tudo era um cinza difícil de explicar.
As palavras de Beatriz ainda ecoavam, como fragmentos que se recusavam a desaparecer.
Quando estacionou diante do chalé, deixou as mãos descansarem por alguns segundos sobre o volante.
Só então soltou o ar — um suspiro carregado de culpa, cansaço e medo.
Medo de não saber o que dizer.
Medo de perder o que mais amava.
Abriu a porta do carro e o ar frio bateu no rosto.
Cada passo em direção à varanda parecia mais pesado que o anterior.
Camila estava lá.
Sentada na cadeira de madeira, com uma manta sobre as pernas e as mãos protegendo o ventre.
Ela não estava chorando, mas os olhos denunciavam uma noite inteira de inquietude.
Quando viu Ricardo, não sorriu.
Não correu.
Não perguntou nada.
Apenas o olhou.
E o olhar dela doeu mais do que qualquer palavra pod