O sol despontava preguiçoso sobre o lago, derramando reflexos dourados nas janelas do chalé. Camila acordou antes que o dia ganhasse forma, como acontece desde que o peso da espera começou a alterar o ritmo do coração. Mas naquela manhã havia algo diferente: o silêncio já não era apenas vazio; parecia respirar junto com ela.
Dois passos leves vieram da cozinha. Por um instante, ela quase acreditou estar sonhando—mas o ranger da chaleira devolveu a realidade. Ricardo estava ali, movendo-se com cuidado, como quem teme quebrar um encanto frágil demais para durar.
Camila observou por alguns segundos. Ele vestia uma camisa simples, mangas dobradas, cabelo bagunçado, um olhar concentrado demais para alguém só fazendo café. A cena cotidiana ganhara um peso quase sagrado; o coração dela reagiu como se testemunhasse o impossível.
Ela desceu devagar, o piso de madeira rangeu sob os pés. Ricardo se virou, e quando seus olhos se cruzaram, o tempo pareceu prender a respiração outra vez.
— Bom