O tempo parecia ter parado desde o dia em que Camila partira.
Os dias se arrastavam em um silêncio pesado, e cada canto da casa era uma lembrança viva dela. O perfume suave que ainda pairava no quarto, o copo de chá esquecido na cozinha, o sussurro imaginário dos passos dela no corredor — tudo lembrava a ausência que Ricardo tentava silenciar.
Ele se levantava todas as manhãs antes do sol nascer, como se o trabalho pudesse preencher o vazio. Mas o trabalho já não o distraía. O olhar dele se perdia nas folhas da mesa, e cada decisão parecia sem sentido.
A mansão era grande demais para tanto silêncio. E o silêncio, agora, era um inimigo.
Certa noite, Ricardo subiu ao quarto dela. Não havia coragem de mudar nada. O lençol seguia no mesmo lugar, as cortinas abertas, o travesseiro conservando o mesmo vinco.
Ele sentou-se na beira da cama, as mãos protegendo o rosto. Por um instante, permitiu-se fraquejar — o peso caiu sobre os ombros, sem máscaras, sem defesas.
— Por que parece que tudo