Meu celular acendeu com uma mensagem.
[Dez minutos.]
— Dez minutos. — Eu repeti. Só aguenta.
Carlo, o grandão, o temido Capo Pipino, notou meu movimento. Os olhos dele congelaram.
— Sério? Chamando a polícia?
Antes que eu escondesse, ele arrancou o telefone da minha mão e o jogou pela janela da cobertura. Um estalo seco — e nada. Meu último vínculo com o mundo exterior havia sumido. Ele se agachou ao meu lado, as pontas dos dedos roçando minha bochecha, com a voz calma e letal.
— Você sabe as regras. A gente não chama a polícia. E pode confiar, querida — traditori não saem vivos.
Tentei balançar a cabeça, mas minha garganta estava travando, meu corpo pesado como chumbo.
— Eu não sou traidora... Carlo, eu sou alérgica... Eu preciso dos meus remédios...
Gianna surgiu, agarrando o braço dele.
— Ah, por favor, Siena. Isso é dor de verdade ou só seu drama de sempre? É uma festa de aniversário, não um teatro comunitário. Você realmente chamou a gente aqui só pra humilhar o Carlo? Isso não é amor — isso é triste.
A multidão gargalhou. Ela o puxou, e tudo voltou — as mesmas reprises de sempre. Gianna nunca calava a boca pra dizer que conheceu ele primeiro. Como se isso desse algum direito a ela. Toda vez que eu tocava no assunto, Carlo sorria, arrumava meu cabelo.
— Amor, se fosse pra acontecer alguma coisa, já teria acontecido. Não pensa demais.
Ela entrava no meio, com uma risada falsa.
— Por favor, eu nunca iria querer alguém tão mandão quanto o Carlo. Só você aguenta esse ego.
E eu acreditava. Burra, né? Mas aí vieram as coincidências. Cada encontro, ela aparecia. Cada conversa, ela roubava. Eu ficava ali, um fantasma ao lado do próprio marido. Depois veio a preocupação falsa.
— O que foi, Siena? Incomodada porque Carlo e eu temos química demais? Não seja tão sensível.
Carlo nunca dizia nada. Só ria. Como se eu fosse o problema. Agora ela nem fingia mais.
— Você é patética. Sempre agindo como uma princesinha mimada. Já pensou o quão exaustiva você é? Não consegue nem respirar sem Carlo olhar pra você.
— Eu sou mesmo alérgica... Só... me dá meus remédios.
Silêncio. Depois, risadas. Mais cruéis.
Gianna cortou o som.
— Meu Deus, ela ainda tá fingindo? Carlo, fala que você não está caindo nessa.
Os capangas dele apareceram.
— Não amolece agora, Capo! Se mostrar fraqueza ela pisa em você!
— Isso, Capo! Bota ela no lugar!
Qualquer restinho de dúvida dele se afogou ali.
Ele nem olhou pra mim.
— Chega, Siena. Corta o teatro. Se você gosta tanto do chão, a gente continua brincando disso em casa. Tá todo mundo olhando. Levanta antes que eu perca a paciência de verdade.
Eu continuei no chão.
Algo passou pelo rosto dele — talvez culpa, talvez medo — e ele deu um passo na minha direção. Gianna entrou na frente rápido, bloqueando.
— Carlo, não cai nessa. Alergia não deixa ninguém roxa. Ela tá é bêbada.
Balancei a cabeça, quase sem conseguir mexer.
— Remédios...
Antes que eu terminasse, Gianna se abaixou e me deu um tapa. Uma vez. Duas.
— Melhorou? Ficou sóbria agora?
Meu rosto ardia, mas ela não parou. Então ela puxou um frasco minúsculo da bolsa, os olhos brilhando.
— É isso que você quer?
Cada nervo meu gritou que sim.
Gianna riu, sacudindo o frasco.
— Então vem pegar, Siena. Engatinha, e é seu.
Eu não conseguia ficar de pé, mas a sobrevivência gritava mais alto que o orgulho. Arrastei meu corpo, arranhando o carpete com as mãos. Quando cheguei perto, ela puxou o frasco pra longe.
A risada dela cortou o ar — alta e cruel.
— Deus, Siena, você é patética! Engatinhando como um cachorro? Acho que você é só lenta demais.
Então ela despejou os comprimidos num copo de uísque. Os comprimidos brancos chiaram e sumiram no líquido âmbar. Um som escapou de mim, parte soluço, parte suspiro estrangulado.