Gianna apontou diretamente para mim.
— Vocês ouviram isso, né? Ela ainda está gritando. Isso SOA como alguém morrendo?
A voz dela pingava falsa preocupação, puro teatro, como se eu fosse um show de aberrações para a diversão dela. Ao lado dela, o maxilar de Carlo se contraiu. Aquele olhar, o mesmo que sempre significava que eu estava envergonhando ele de novo.
— Siena, chega. É a nossa festa de aniversário. Você pode, pelo menos uma vez, não acabar com o clima?
Essas palavras doeram pior do que qualquer tapa.
— Eu... não estou fingindo. — Eu ofeguei.
— Eu sou realmente alérgica...
O quarto girou, as paredes derretendo em preto. Meus pulmões pareciam ter sido envoltos em plástico, mas eu ainda me virei para Carlo — porque, aparentemente, eu não tinha aprendido minha lição sobre ter esperança. Gianna se esgueirou entre nós, os dedos se enrolando no braço dele.
— Esquece ela, Carlo. Ela vai parar o show assim que ninguém estiver olhando. Vamos cortar a torta de maçã.
A multidão se abriu como cães treinados, liberando o caminho para a grande entrada deles. Eles cortaram a primeira fatia. O cheiro de canela e manteiga — antes reconfortante — agora só revirava meu estômago. Então Gianna arfou como se tivesse sido baleada. A fatia dela tinha escorregado por acidente, e tinha geleia se espalhando pelo vestido de grife.
— Ah não, está coçando. Será que eu sou alérgica à geleia? — ela choramingou, de olhos arregalados.
A risada tomou conta do ambiente.
— Geleia pode causar reação de pele, Capo! Melhor ajudar ela a limpar!
— Pena que acabou o último guardanapo! E se for sério? Talvez você tenha que lamber!
Carlo franziu a testa para a caixa de guardanapos.
Gianna passou o dedo pela geleia, voz baixa:
— Carlo, me ajuda...
— Chega. — Ele resmungou, mas mesmo assim se inclinou.
Alguém gritou no fundo:
— Ei, Capo, sua esposa tá olhando! Acha que ela tá com ciúmes?
Outra voz gargalhou:
— Nada! Ela tá ocupada demais estrelando a própria tragédia!
A risada explodiu novamente — feia, alta, cruel. Através do borrão, eu vi Carlo olhar para mim. Só uma vez. Então ele abaixou a cabeça em direção ao peito de Gianna. E o tempo parou. A dor veio rápida — afiada, brutal. A torta que eu tinha assado para nós? Só outro adereço no show nojento deles. Tentei me mover, rastejar, qualquer coisa — mas no segundo em que tentei me levantar, o mundo escureceu. Meu corpo se recusou a lutar. Então me veio a lembrança — meu comprimido extra. Eu tinha colocado no bolso do meu casaco dias atrás. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia segurar o tecido. Os segundos se esticavam como anos. Finalmente, meus dedos tocaram algo pequeno e liso. Eu puxei, a visão piscando. Quase lá. Só colocar na boca… Mas minhas mãos não paravam de tremer. O comprimido escorregou, quicou uma vez — e foi esmagado sob um salto cravejado de joias.
Gianna.
Ela girou o calcanhar devagar, deliberada, moendo até não sobrar nada além de pó branco. Depois pressionou — em cima da minha mão. A dor subiu pelo meu braço. Eu ouvi um estalo pequeno, mas nenhum som saiu da minha boca.
— Por quê… — Eu sussurrei.
Gianna se agachou, o sorriso puro veneno.
— Vamos brincar, Siena. E se a filhinha preciosa do Don Suvari simplesmente… morresse num acidente hoje? O marido de coração partido herdaria tudo, certo?
— E se eu acontecesse de me casar com o viúvo depois… — Ela inclinou a cabeça, os olhos brilhando. — Então o império Suvari seria meu.
E aí tudo fez sentido. Ela não queria me humilhar. Ela queria me tirar do caminho. Morta. Mas ela errou. A Família Suvari não entrega seu trono a estranhos, especialmente não a cobras de salto alto e design caro. Eu forcei meus olhos a se abrirem, encontrei o relógio. Três minutos restantes. Gianna suspirou, já entediada.
— Você é mais resistente do que eu pensei. — Disse ela, alisando o vestido e exibindo aquele sorrisinho frio.
— Acho que vou te fazer um favor e terminar o trabalho eu mesma.