Gianna pegou uma fatia de torta.
— Ouvi dizer que você mesma fez isso, Siena. Por que não dá uma mordida?
Antes que eu pudesse piscar, ela esmagou a torta no meu rosto.
A massa estalou. A geleia quente bateu como lava. Entupiu meu nariz, encheu minha boca — eu não conseguia respirar.
O pânico rasgou meu peito, arrancando de mim o último fio de força.
— Socorro! — Eu engasguei, com a voz despedaçada.
— Alguém — ME AJUDA!
Finalmente, eles prestaram atenção.
Carlo veio marchando, todo falso controle e frieza.
— O que está acontecendo aqui?
Gianna congelou, vi aquele sorriso arrogante virando falsa preocupação em um piscar.
— Meu Deus, Siena! Como você fez tanta bagunça comendo torta? Vem cá, deixa eu te ajudar a limpar.
Tentei recuar, mas minhas pernas cederam. Caí bem em cima dela. Ela soltou um grito agudo e despencou no chão.
— Siena! Eu estava só tentando ajudar — e você me empurrou?
Carlo veio furioso, os olhos faiscando.
— Siena, você consegue parar de se humilhar?
Então ele realmente me olhou — minha pele azulada, lábios tremendo — e, por um segundo, a raiva se dissolveu.
— O que há de errado com o rosto dela? Talvez devêssemos dar o remédio?
Ele deu um passo na minha direção, mas Gianna agarrou seu braço.
— Não deixe ela te enganar, Carlo. Ela só está com sede. Acontece quando está desidratada.
No instante em que ela disse "com sede", a expressão dele suavizou. Gianna pegou um copo com um líquido transparente, o sorriso doce como veneno.
— Aqui, Carlo. Dá pra ela. Ela só vai beber se for de você.
Ele assentiu. Claro que assentiu… e se aproximou. Assim que o copo encostou nos meus lábios, o cheiro bateu como um soco. Amaretto. Letal, com amêndoas. O terror atravessou meu corpo. Virei o rosto. Aquele pequeno ato de recusa virou uma chave nele.
— Estou tentando te ajudar, e você ainda quer fazer show? Já chega!
Gianna arrancou o copo da mão dele e o enfiou no meu rosto.
— Deixa que eu faço. Ela precisa aprender a lição.
Ela forçou minha mandíbula. O líquido queimou pela minha garganta inflamada como ácido. Caí no chão com força, sufocando, lágrimas borrando tudo enquanto tossia e engasgava. Gianna riu, colocando o copo na mesa como se merecesse aplausos.
— Viu? Um pouco de água e ela tá magicamente curada.
Carlo até concordou.
— Acho que ela estava só com sede mesmo.
Ele virou para ir embora, mas eu agarrei sua calça, mal conseguindo segurar.
— Ajuda… por favor… — Minha garganta era pura lixa.
— Meu pai é… Don Giovanni Suvari…
Carlo olhou pra baixo e deu uma risada debochada.
— Seu pai é o Don? Por favor. Você recorta cupom e corre atrás de promoção. A gente é casado há um ano, não acha que eu saberia se você fosse da máfia?
A sala explodiu em gargalhadas.
— Alguém viu filme de máfia demais. — Alguém gritou. — Agora acha que é a protagonista.
Gianna quase caiu de tanto rir.
— Ainda agarrada à fantasia de princesinha? — Ela chutou um pedaço de massa em mim. — Aqui está sua coroa. Vai, usa. Princesinha suja precisa de um banho. Deixa eu ajudar.
Ela pegou o Amaretto e despejou sobre minha cabeça. O líquido gelado encharcou meu cabelo e queimou descendo pelo meu pescoço. O riso dela cortou o ar — agudo, arrogante, vitorioso.
— E aí, princesa? Se sentindo real agora?
Carlo encostou na parede, braços cruzados, como se estivesse assistindo a um acidente.
— Gianna, não exagera.
É. Não estava preocupado. Só não queria sangue nos sapatos de grife. Eu estava apagando rápido. Cada respiração era como engolir vidro quebrado. O ar fedia a licor, amêndoas e pura maldade. As vozes deles viraram um borrão distante. Meus olhos focaram no relógio de parede.
9:10.
Era isso.
Ninguém veio. Talvez minha família também tivesse desistido. Quando meus olhos começaram a fechar, as portas foram arrombadas. Uma luz branca inundou a sala.
— Onde está Siena Suvari?