6- Nicholas

— Separe as coisas, não estou falando de nós, estou falando de um funcionário, irmão de uma amiga, alguém que fazia parte do círculo de amizade da minha noiva. Não imponha nosso bolor como desculpa.

— Desculpa? — Meu punho fecha. — Vai se foder, David! Desde quando preciso dar alguma desculpa, ainda mais para você? Foi uma fatalidade, um erro de merda dos meus seguranças, eu vou resolver…

— ELE MORREU, PORRA!

— EU SEI, CARALHO, NÃO VOU CONSEGUIR DORMIR NUNCA MAIS DEPOIS DAS CENAS QUE PRESENCIEI NAQUELE MALDITO ESTACIONAMANTO. ENTÃO NÃO VENHA VOCÊ ME ACUSAR, ESTOU ME AÇOITANDO O SUFICIENTE DESDE O MINUTO QUE SAÍ DAQUELE HOSPITAL. DESDE O MINUTO QUE VI O CARAÇÃO DO GAROTO PARAR E SUA IRMÃ IMPLORAR PELA SUA VIDA E EU NÃO SABER O QUE FAZER. NÃO TER EM POSSE UM CORAÇÃO NOVO, O AR DA VIDA.

Recaio sobre o encosto, fraco, a consciência pesando em mil pensamentos destrutivos, o corpo queimando com o ódio emitente de apertar cada pescoço dos malditos que tirou a vida do garoto. A garganta entala de angústia.

Merda, ele tinha só dezenove anos.

— Eu vou fazer o impossível para punir os responsáveis, e com essa visibilidade da mídia não posso fazer o que desejo.

Ele semicerra os olhos, estudando meu rosto.

— Pretende matá-los?

— Sim. — Intensifico o contato fodido. — O único que não matei mesmo merecendo tal sentença foi você.

Ele ri amargo. Não devolvo o sorriso.

— Não acredito em você, mesmo que o desejo tóxico de destruir um ao outro nos consuma em muitos momentos, você não teria coragem, eu não teria coragem, somos irmãos.

Meus movimentos tardios e pesados espalmam a mesa, curvo a coluna, tendo-o cara a cara comigo.

— Não, somos inimigos, David.

— Nicholas…

— Não há perdão para o que fez, eu…

— Ainda ama Eduarda? Porque consigo ver além do ódio nos seus olhos — se impõe um pouco mais, sequer piscamos —, consigo ver algo que reprimi e enlouquece seu sistema e não é só sobre mim.

— Você é hipócrita pra caralho para entender.

— Talvez seja mesmo.

Volto para minha cadeira, David não vale à pena. Não hoje.

— Saia daqui, estou sem condições de lidar com você.

— De qualquer forma teremos que nos pronunciar juntos, meu nome já está ao lado do seu em todas as manchetes. Renan era um funcionário e bolsista da WUC, além de um amigo, tem foto dele com a Aurora nas redes sociais, enfim, estamos todos ligados. E você sabe o quanto a imprensa adora ter muito material para publicar.

— Tanto faz. — Giro a cadeira para a janela, a visão do meu irmão embrulha meu estômago. — Minha assessora de imprensa liga para a sua e resolve.

— Tá certo. Raica precisa de assistência psicológica e financeira, não só ela como o Théo, então providencie isso. Outra coisa, a WUC entrará em luto no período de 36 horas, infelizmente é pouco, mas não consigo parar a empresa mais que isso. Meu setor de criação está desenvolvendo uma campanha, quem sabe o que aconteceu com Renan apesar de não ser algo novo, sirva como espelho para evitar novos ataques.

— Duvido muito — digo e o fel desce pela garganta.

— Nicholas, me ligue, passei a querer a cabeça desses malditos tanto quanto você.

Volto para ele.

— Se eu os encontrar antes da polícia, não haverá tempo para ligar para ninguém, garanto.

— Pode me chamar de Beca, sr. Queen.

— Então me chame de Nick, srta. Fontes.

A investigadora sorri e se senta na cadeira à frente da mesa. Athos dispôs de algumas informações importantes sobre a mulher de lindos cabelos pretos e olhos de águia. Rebeca Fontes tem trinta e dois anos, iniciou na Polícia Federal há oito anos, teve participações representativas em casos difíceis e liderou outros que venceu sem dificuldade. Se Garbo confia nela, então eu também confio.

— Combinado.

— Athos me indicou você, acredito que temos uma confiança total aqui. — Inicio com franqueza, visto que se o destino der uma oportunidade para burlar a lei, farei sem pensar. — Não sou um cara que respeita algumas regras ou aceite um não facilmente.

Ela avalia as minhas palavras por alguns segundos, enquanto analiso sua seriedade profissional.

— Fiz a lição de casa após Athos me ligar — meneia a cabeça calculista —, é um homem poderoso, Nick Queen, não acha que mexer com a lei seja arriscado para o seu status?

— Não pesquisou direito, essa preocupação jogue para o meu irmão, óbvio que sabe quem é, para mim, jogue toda a incoerência.

Beca estica os lábios e sorri contida.

— Não tenho tanta certeza, tem fama de bad boy desapegado. Mas não passa de fachada, não?

Que porra é essa?

— Beca — cruzo os braços —, investigou minha vida?

— Investiguei, seu rosto bonito me tentou. — Esboça outro sorriso, esse bem charmoso por sinal.

— Melhor tomar cuidado, não sou de deixar passar detalhes como esse.

— Não misturo as coisas, mesmo com um bonitão como você. — Ela desfaz o sorriso e prossegue numa mudança drástica de comportamento. — Enfim, aceito o caso, faremos uma investigação silenciosa, enquanto trabalho junto à delegacia que cuida do caso. Tenho contatos importantes lá, então não vai ser difícil fazer parte da equipe.

— Um detalhe importante, quando encontrarmos os vermes, quero eles antes da polícia.

— Fará o quê?

— Advinha.

Ela umedece os lábios, negando com a cabeça.

— Não tem cara de que mataria alguém, jamais o deixaria ser imprudente e cometer alguma merda — diz firme. Levanta e seu corpo curvilíneo alimenta meus olhos. Porra, não pude evitar. — Como a boate está no domínio da polícia e fechada para a investigação, vou aproveitar os peritos criminais que estão no local do crime e ficar atentas as filmagens. Tenho faro, e sei que nada aqui é por acaso.

Franzo o cenho, totalmente incomodado com sua análise precoce.

— Além das câmeras, Théo é o único que pode reconhecer os agressores, certo? Acho conveniente que providencie escolta policial para o hospital, ele é vítima e testemunha.

— Sim, já foi providenciado pelo que sei. Talvez em três dias tenho liberação médica para interrogá-lo.

— Perfeito.

— Até o presente momento estamos com indícios de homofobia, mas acredito que seja muito pior, só um palpite.

Ela realmente parece saber o que diz.

— Como isso pode acontecer aqui? — vocifero de punhos fechado.

— Isso acontece o tempo todo, Nick, acredite, mortes como a do Renan não é novidade no Brasil. Por isso tenho um palpite, mas antes vou averiguar as câmeras.

Dois toques na porta levam meu rosto na direção.

— Entre.

Day põe o pé para dentro com um enorme buquê de flores vermelhas escondendo uma boa parte do seu corpo.

— Nick, as flores — diz na retaguarda.

Ela exagerou no tamanho.

— Um pouco grande, não?

— Você acha? — Inclina a cabeça de lado, revelando um rosto sorridente e feliz.

Eu entregar flores a alguém, a deixou sorridente e feliz?

Que ridículo!

— São lindas — elogia Beca. — As flores são…

— Raica Vásquez, irmã de Renan.

— Muito gentil da sua parte.

Direciono meus pés ao encontro do tal buquê de dois metros e meio de altura, ou quase isso.

— É uma situação delicada. — Tomo posse do maço de flores, ouvindo como uma gravação lamuriosa e repetitiva, o choro desesperado da irmã.

Que instante fodido.

— Ah, outro favor — peço para minha assistente. — Mande flores como essa para o quarto do Théo, também pretendo visitá-lo ainda hoje.

— Sim, senhor.

— Beca, preciso ir, Day ficará à sua disposição. — Ela assente e sorri simpática, volto para a assistente. — Faça tudo que a investigadora solicitar, sabe aonde vou, então só me interrompa em caso de urgência.

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