5- Nicholas

— Sério? Não se envergonha do comentário filho da puta? Não tem bocetas o suficiente no seu harém para cobiçar uma garota de luto? Vê se não age como um cretino usando a fragilidade dela para arrastá-la para o seu prostíbulo.

Apesar do limitado momento cálido que dividi com ela não ser o suficiente para escanear sua personalidade, foram razoáveis para identificar o tipo de mulher que é Raica Vásquez.

— Assim você me ofende. — Ele faz uma interpretação barata de ofendido. Isto só enfatiza o quanto é filho da puta.

— Vai se foder!

— Ok, vou respeitar.

— Não é uma opção, idiota. — Passo da irritação para o alívio, assim que vejo Aurora chegar e acolher Raica em seus braços. — Porra, eles demoraram.

É torturante presenciar seu sofrimento sem… sei lá, fazer algo a respeito. Não sei lidar muito com emoções, ainda mais vindo de uma mulher, as únicas intenções quando me aproximo de uma é prazer, nada além.

— Pelo visto seu irmão também veio — fala Deloy ao mesmo tempo em que seus olhos sondam os meus.

— Lide com isso, maninho.

— Só para completar o caos. — Queixo-me ácido.

A imagem de David de imediato afeta cada músculo, indispensável ressaltar o quanto repudio sua presença ou o quanto o ar trepida ao dividimos o mesmo espaço.

— Precisamos ir até lá, nos afastamos há um tempo e… — Brizz lembra.

— Precisava respirar, a notícia, a garota, me tirou do eixo, cara. — Novamente a tragédia martela meu peito. Que vacilo do caralho! — A área vip tem cinco seguranças…

— Que até então garantiam a segurança dos carros.

— Arrume uma desculpa melhor para os filhos da puta deixarem seus postos e ir foder duas garçonetes.

Que tipo de profissional você contratou, porra?

— Agora a culpa é minha?

— Caralho, o garoto morreu!

— E a culpa é minha?

— Vai se foder, Brizz!

Aproximo-me da porta de vidro e ela se abre liberando o acesso ao interior do hospital, ao meu encalço Deloy e à minha frente uma tragédia. Meus passos pesam uma tonelada a cada passada de perna, minha consciência carrega a mesma bagagem. Minutos antes preferi me afastar, não sabia mais o que dizer para alguém que perdeu…, um irmão. Apesar de não ter o direto de comparar, não pela perda, e sim pelas circunstâncias, sei o que Raica sente e dói pra caralho.

Perdi um irmão, assim como ela.

...

@noticianacional

As notícias não são boas, pessoal.

Nessa noite a boate UP protagonizou uma fatalidade, um jovem de dezenove anos morreu espancado no estacionamento, e seu namorado encontra-se em estado grave. Ainda não temos informações sobre os suspeitos, mas segundo a polícia há indícios que Renan Vásquez e Théo Martins foram vítimas de homofobia. Reitero que a rede de boates UP é do bilionário Nicholas Queen, herdeiro da WIS UNIVERSITY CONECT, também temos nessa gama magnata seu sócio, Deloy Brizz, herdeiro da rede de hotéis HosBrizz. O que fica de difícil compreensão é que como um estabelecimento de alto padrão, frequentado por celebridades, permite uma atrocidade imprudente como essa dentro de um lugar vigiado por câmeras?

Não duvido que Renan não passe de uma estatística, jovem, preto e gay, tudo que o governo gosta de usar como plano de fundo em campanhas políticas, mas que na prática não passa de um número no vasto mural da imprudência e intolerância no Brasil.”

— Caralho, olha a festa caótica que os jornalistas fazem com uma tragédia, que porra! — Fecho o notebook quase destruindo o aparelho. — Day, declare luto por sete dias em todas as boates do Brasil — ordeno para minha assistente.

— Ok, Nick. — Ela faz menção de deixar o escritório, mas volta, estaca na minha frente como um poste indeciso, uno as sobrancelhas intrigado com sua impaciência.

— Desenvolve, Day. — Faço um gesto que continue.

— Devo enviar flores para a… irmã do rapaz?

Solto o ar preso, não houve outra aproximação no hospital após a chegada de Aurora e David. Raica estava inconsolável e somente minha cunhada foi capaz, por ora, de aliviar tamanha dor, a presença do meu irmão ali desestabilizou ainda mais a situação para o meu lado. Nunca serei uma pessoa controlada respirando o mesmo oxigênio que o infeliz, depois de todo o passado mal consigo recordar o que é ter um coração tranquilo ao lado do meu irmão.

Francamente, após a condenável noite as batidas do meu coração batem em outro ritmo, às vezes cautelosa em situações atrozes, e muitas vezes silenciosas e inexistentes em situações emocionais. Nunca mais bateu potente, vivo, bombeando um sangue quente para pulsar em minhas veias.

— Não precisa, eu mesmo providencio — declaro por fim.

— Vai entregar pessoalmente? — Ela parece se espantar, olhos arregalados por trás das lentes dos óculos charmosos, boca aberta em formato de o, sinais cômicos de espanto.

— Sim.

A boca cresce um pouco mais. Não contenho um sorriso, é engraçado, entendo o fundamento do susto, não é uma atitude rotineira Nick Queen entregar flores a uma mulher, há anos não atuo com tanta sensibilidade, porém não estamos numa situação qualquer, e sim, diante de uma tragédia.

— Nick, eu… Corto.

— Providencie e eu entrego. Agora preciso ficar sozinho.

Day assente e sai porta a fora. Giro a cadeira e a paisagem da grande metrópole se reflete por meio das largas janelas. Neguei durante um tempo morar nesse país que gerou no meu peito tanta dor e decepção, um lugar que cuspi no chão e jurei nunca mais pisar. “Terra maldita” proferi antes de entrar no avião, buscar novos rumos, um anestésico forte o suficiente para aplacar o bolor. Como um carma acabei voltando, um ou outro compromisso me desembarcava nesse país, um ou outro motivo me fazia reviver o que luto todos os dias para esquecer, superar, curar.

— Não preciso ser anunciado. — A voz e o corpo entram juntos.

— Precisamos conversar.

Inspiro e massageio as têmporas, tudo ao mesmo tempo. Meu irmão até que demorou para aparecer e derrubar o pouco de paciência que me resta.

Day entra em seguida, sem a mínima noção do que fazer a respeito.

— Nick, eu… — Tadinha, em pânico tenta se explicar.

— Pode ir, Day. — Aceno com a mão dispensando, ela meneia a cabeça se convencendo, caminha incerta e veda a porta. Pow, que comece a saga. — Por que não ligou antes de vir, maninho?

— Que merda toda é essa, Nicholas? Como pode falhar com a segurança, perdemos um garoto, o irmão da Raica.

Mesmo diante de uma calamidade ele não cansa de estar sempre engomado, de terno, cabelos perfeitamente alinhados, ar de que a qualquer momento vai decidir o destino da porra do mundo.

— Vai se foder, isso não é novidade pra mim.

— Baixa essa bola, essa merda aconteceu aqui, porra!

Quem ele pensa que é?

— EU SEI, ACONTECEU UM ERRO E SOU O RESPONASAVÉL, O QUE QUER, ME CONDENAR? TIROU LICENÇA PARA JUIZ? LOGO VOCÊ!

David espalma a mesa, curva o torso em um movimento calculado para o afronte.

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