(Narrado por Camila)
Desde aquela noite, durmo mal.
Não consigo tirar da cabeça o brilho metálico do anel na gaveta de Gabriel.
Nem o jeito como ele me olhou — como se estivesse lutando contra mim e, ao mesmo tempo, implorando para que eu ficasse.
Mas o que me consome, mais do que tudo, é o silêncio dele.
Eu sou escritora. Vivo de palavras.
E Gabriel me quebra com as que ele não diz.
Hoje de manhã, sentei à mesa da varanda com Clara e Daniel. O sol parecia zombar da minha cara, brilhando forte demais pra alguém que não teve uma noite decente de sono.
Clara percebeu na hora.
— Você tá pálida.
— Só não dormi bem.
— Pesadelos?
Assenti.
Mas o pesadelo real não acontecia dormindo.
Daniel mexia na xícara de café como se ela fosse um inimigo a ser vencido.
De vez em quando, lançava olhares rápidos, disfarçados, na minha direção.
Ou, talvez, nem tão disfarçados assim.
— Eu podia te ajudar a relaxar — ele soltou, num tom baixo e insinuante.
Clara não ouviu. Estava distraída com o celular.
Fite