(Narrado por Camila)
A noite caiu pesada.
A lua estava alta, mas sua luz parecia pálida. Me senti igual a ela: presente, mas apagada.
Fazia frio. Um frio que não vinha do tempo, e sim de dentro.
Tomei chá de camomila, tentei escrever, reli algumas páginas antigas, até mesmo revisei os rascunhos do segundo livro.
Nada ajudava.
As palavras não eram mais minhas.
Talvez eu estivesse perdendo a mim mesma.
Vesti um moletom antigo, amarrei o cabelo em um coque frouxo e desci até a cozinha para pegar um pouco de água. A casa estava silenciosa, Clara já dormia — ou fingia que dormia. Ela andava inquieta ultimamente. Quase tanto quanto eu.
Abri a geladeira, me servi e, quando fechei a porta, levei um susto.
— Vai me matar do coração! — ofeguei.
Era Daniel.
Ele sorriu, mas não respondeu.
— Que horas são? — perguntei, recuando um passo.
— Tarde demais pra estar acordada e sozinha assim — ele respondeu, com a voz baixa, como se quisesse criar intimidade.
— Vim beber água. Boa noite.
Tentei passar