(Narrado por Clara)
Há um momento exato em que tudo deixa de ser coincidência.
Os olhares.
As ausências.
Os toques não dados… e os que tentam ser escondidos.
Por muito tempo, escolhi não ver.
Por lealdade. Por medo. Por comodidade.
Mas hoje… hoje ficou impossível continuar fingindo.
Vi Gabriel sair da varanda com a mandíbula travada, os olhos perdidos no chão.
Minutos depois, Camila apareceu na cozinha em silêncio, as bochechas coradas demais, a respiração ligeiramente alterada.
E eu conheço a Camila.
Conheço cada variação do humor dela, cada tom de voz, cada disfarce.
E aquilo… aquilo não era nada disfarçado.
Aquilo era fogo. Desejo recém-apagado com vergonha e confusão.
Fiquei calada.
Peguei uma faca e comecei a cortar morangos, como se a lâmina me ajudasse a processar a avalanche dentro da minha cabeça.
Porque agora tudo fazia sentido.
As escapadas.
O jeito como ela evitava falar do Gabriel, como desviava sempre que eu puxava assunto.
As ausências durante o dia, os cochichos abafad