A noite chegou com um vento gelado lá fora, mas dentro do apartamento estava tudo absurdamente aconchegante. Eu preparei a sala com cobertores no sofá, pipoca quentinha, luzes mais baixas e até acendi uma vela com cheiro de baunilha, e olha que eu nunca fui de ligar pra esses detalhes. Mas hoje… bom, hoje seria diferente.Helen apareceu descalça, com os cabelos soltos e ainda úmidos do banho. Usava outro pijama, dessa vez, um com pequenos pinguins dançando. Eu ri assim que a vi.— E aí, desfilando a nova coleção outono-inverno “animais fofinhos”?— Fica quieto, vai. Esse aqui é o meu favorito — disse, jogando uma almofada em mim antes de se jogar no sofá. — Por sinal, encomendei um para você. — Para mim?— Claro, nunca viu fotos onde o marido e a mulher usam o mesmo pijama?— Nossa que cafona! — Não acho! — Eu não vou usar pijama de pinguim.Helen me dá língua e faz uma careta engraçada. Por Deus, como ela é linda! Em seguida se aconchegou do meu lado e puxou o cobertor para as per
Helen despertou devagar. Ainda havia sombras da noite nos cantos do quarto, mas a luz suave que filtrava pelas cortinas anunciava que o dia estava chegando. Os olhos estavam pesados pelo cansaço e, ainda assim, o corpo parecia leve. Leve de um jeito estranho. Como se tivesse sonhado algo bonito demais para esquecer, ou vivido algo que, mesmo simples, deixará marcas.Ela estava sozinha na cama.Os lençóis, levemente bagunçados, ainda carregavam o cheiro dele. Um perfume amadeirado, discreto, misturado ao calor do toque dele que parecia continuar ali. Ethan…Seu nome invadiu os pensamentos como um sussurro familiar e perigoso.Helen fechou os olhos novamente, apertando o lençol contra o peito, e se permitiu recordar.Eles estavam no sofá, a lareira acesa, o silêncio confortável entre os dois. Ela sentada com as pernas dobradas, os pés sob as coxas, ele reclinado, com o braço estendido ao longo do encosto. Tão perto… que conseguia sentir a respiração dele roçar sua pele.E então ele riu
Helen sentiu o peito se contrair no instante em que seus olhos pousaram sobre a fotografia. O mundo ao seu redor silenciou, como se o próprio tempo a suspendesse naquele exato momento de agonia. O sorriso de Ethan na imagem, sua expressão relaxada ao lado de Miranda, a maneira como seus corpos pareciam confortáveis um com o outro… cada detalhe perfurava sua alma como estilhaços de vidro.Seu coração martelava dentro do peito, não de surpresa, mas de uma dor sufocante, excruciante. Porque, no fundo, ela sempre soube. Sempre soube que Ethan nunca a quis. Sempre soube que, se pudesse escolher, ele estaria ao lado de Miranda, vivendo o sonho dourado que nunca pôde ter. E agora, ele estava ali, mostrando ao mundo, sem qualquer pudor, que ainda a desejava.O contrato entre eles nunca envolveu amor, mas Helen o amava. Amava Ethan de uma forma que a destruía pouco a pouco, que sugava sua alma a cada dia. Nunca quis esse casamento, mas quando foi obrigada a aceitar, agarrou-se à esperança de q
O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.Enquanto caminhava para o prédio de vidro imp
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.
A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.Mas o clima entre eles era frio como gelo.Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse s
O voo de volta para casa foi silencioso. Helen olhava pela janela do avião, observando as nuvens passarem lentamente, mas sua mente estava em outro lugar. Cada lembrança dos últimos dias a golpeava com força, mas ao invés de deixá-la desmoronar, fazia com que algo dentro dela se erguesse em desafio.O casamento, a lua de mel solitária, as noites passadas em um quarto vazio enquanto Ethan fingia que ela não existia… Eram feridas abertas, mas Helen não se permitia ser derrotada por elas. Não mais.Quando aterrissaram, Ethan se despediu com um simples “tenho uma reunião na empresa” antes de entrar em um carro e desaparecer na estrada sem sequer olhar para trás. Helen assistiu o carro partir e respirou fundo, a dor se misturando com uma determinação amarga. Se ele a ignorava, então que fosse. Mas ela não seria destruída por isso.O apartamento que a aguardava era sofisticado e elegante. Os tons neutros, os móveis de madeira escura e os detalhes em mármore transmitiam sofisticação, mas Hel