POV Bennet
Sento-me na poltrona da sala dos meus pais, aquela velha de couro marrom que estala quando alguém se move. Era o lugar onde meu pai se sentava para ler o jornal, e eu, criança, me encolhia no tapete ao lado, fingindo ser invisível.
Agora sou eu quem ocupa aquele espaço. Mas não há jornal. Nem futuro.
Só há essa dor lenta, esse tempo escorrendo como areia por entre os meus dedos. E meus pais, sentados no sofá à minha frente, parecendo mais frágeis do que me lembro.
Minha mãe segura um lenço já úmido. Meu pai finge firmeza, com os cotovelos apoiados nos joelhos, olhando para o chão como se a resposta para tudo estivesse escondida nas fibras do carpete.
— Eu sei que vocês já sabem — começo. Minha voz sai baixa, trêmula, mas firme o suficiente para romper o silêncio pesado. — Só... preciso que ouçam da minha boca.
Minha mãe balança a cabeça devagar, como se cada movimento custasse um pedaço dela.
— Eu não tenho muito mais tempo, eu sinto isso agora.
A frase fica no ar, como se